Classes C, D e E evitaram que o Brasil parasse na pandemia

Classes C, D e E evitaram que o Brasil parasse na pandemia
Classes C, D e E evitaram que o Brasil parasse na pandemia. Foto: SBT

O Brasil não parou porque as classes C,D e E não conseguiram se dar ao luxo de parar. A afirmação é do presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela, Renato Meirelles.  “São centenas de milhares de brasileiros que mantiveram as coisas funcionando”, disse em entrevista ao Poder em Foco, que foi ao ar no domingo (28.fev), no SBT.

Ele observou que é comum as pessoas lembrarem do médico como profissão essencial, mas ressaltou que a rede de serviços que exigem trabalho presencial é enorme. “E os enfermeiros, os técnicos de enfermagem, a senhora que faz a faxina e mantém o hospital funcionando, o motorista de ônibus, o segurança, os caixas do supermercados?”, exemplificou.

Para Meirelles, o coronavírus escancarou a desigualdade no país. “Talvez uma das primeiras fake news que foram desmontadas pelas nossas pesquisas no início da pandemia foi de que esse vírus era um democrático, que atingia da mesma forma, pobres ricos no Brasil. Não é verdade. Os anticorpos sociais são muito diferentes entre a base e o topo da pirâmide”.

O presidente do Locomotiva acredita que a retomada também não vai acontecer no mesmo ritmo entre as diferentes camadas sociais brasileiras. Desde o início da pandemia, o comunicólogo, especialista em consumo e opinião pública, já fez cerca de 40 pesquisas, desde o início da pandemia, para entender mudanças nos hábitos dos consumidores e o impacto social da doença.

Favelas 

Em parceria com o Data Favela, Renato Meirelles mapeou a situação dos 15 milhões de moradores dessas comunidades e constatou uma situação crítica. “Oito de cada dez moradores das favelas passaram fome durante a pandemia. O Brasil não entrou no processo de convulsão social porque existe uma forte ligação da iniciativa privada com as organizações do terceiro setor e por conta do auxílio emergencial”, constatou.

Confira outros dados:
– Nas favelas, 58% pediram o auxílio emergencial. 18% pediram e não conseguiram. 23% não pediram
– Com o fim do auxílio emergencial, 67% dos moradores de favela irão precisar cortar despesas básicas, enquanto somente 8% conseguirão manter o padrão de consumo
– 72% dos empreendedores das favelas precisaram fechar temporariamente o seu negócio/empresa por conta da pandemia;
– Nas favelas, 50% pararam de estudar durante a pandemia porque não conseguem acompanhar as aulas online;

Renato Meirelles acredita que a pandemia obrigará o mundo corporativo a pensar com mais atenção nos consumidores das favelas. “A pandemia tem obrigado esses executivos a entenderem a realidade do nosso país e a formatarem produtos e estratégias de negócios que contemplem essa imensa parcela da população brasileira”.

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva revela que 70% dos moradores de favela priorizam a qualidade na hora do consumo. “A  razão é muito simples, o consumidor de baixa renda não pode errar. Se ele comprar um arroz vagabundo, baratinho, vai ter que comer arroz ruim o mês inteiro, porque a grana que ele tinha pra comprar o arroz era aquela. Já foi o tempo em que um produto de baixa qualidade fidelizava o comprador de menor renda no Brasil”, afirmou.

Perfil

Renato Meirelles, 43 anos, é paulistano. Ele é autor dos livros Um País Chamado Favela e Guia para Enfrentar Situações Novas Sem Medo. É membro do conselho de professores do IBMEC, onde é o titular da Cadeira de Ciências do Consumo e opinião pública. Em 2012, fez parte da comissão que estudou a nova classe média brasileira para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da presidência da República.

Fonte: sbt NEWS

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