Chame Chame

Chame Chame

Não posso! Não posso pensar na cena que visualizei e que é real, no nosso Brasil e no mundo. Li o livro “Os Miseráveis”, de Vitor Hugo, onde o cenário criado na obra evidencia a situação de desamparo em que viviam os mais pobres. Por essa razão, até hoje a obra é usada como referência em críticas de desigualdade social. Com certa frequência vou ao Bom Preço do Chame Chame, e na subida da rampa, passo por uma pedinte e uma criança aparentando sete anos.

O filho dizia para a mãe: “Estou com fome”. Ela respondeu: “dorme”. Ele diz: “mas estou com fome”. Ela insiste: “durma”. Ele diz: “não posso, estou com fome”. Ela grita com dor: “durma, seu chato!”. Até que, de dor e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação.

E eu não aguento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta. Aí apreendi a lição de Alain Touraine, sociólogo francês, que disse um dia: “Aqueles que pensam que sabem o que vai acontecer no Brasil devem estar muito mal-informados. E saí daquela cena triste. Mas, o tempo correu, e as minhas sensações com ele se modificaram para pensar: o que acontecera com nosso país, sem investimento na educação? E lembrei de Eucimar Coutinho que há quarenta anos já falava em controle da natalidade e nada foi feito. Hoje precisei aprender com a minha consciência, para não sucumbiu a tanta miséria neste país.

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