Quando passei alguns dias em Morere, a praia mais famosa da ilha de Boipeba, deitamos na praia a noite, ficamos olhando o céu, vendo as estrelas, lá não tem luz de poste nem de prédio, só as estrelas. Falamos vagas noções de astronomia. “Ali as Três Marias”, “Sirius” a mais brilhante no céu. No alto do céu encontra-se a grande constelação de Virgo, Libra, etc. Lembrei de minha infância em Porto Seguro com o céu estrelado, lembrei do amor, e do destino. Como se todas as recordações de antigamente fizessem parte de meu presente no silêncio que agora nos rodeava. Talvez seja bom que a gente se sinta humilde diante desse mundo misterioso e infinito.
Pensei: “A posteridade existe e esmagará o nosso presente”. Tudo que eu achei que soubesse de repente flutuou para longe de mim como um balão que a gente solta sem querer, olhando a quantidade infinita de estrelas. E o tempo vai andando sem se perder de se. Não há alvoroço no céu. Olhando em volta, tanta imensidão, senti a presença de Deus e vi a minha insignificância.
Quando amanheceu no céu existiam pássaros, sem memória das estrelas da noite, cantavam com a mesma alegria de sempre, dispersados que são da agonia das datas, felizes uns com os outros, voando por árvores que amanheceram chovidas, e quando anoite outra vez, já uma parte do céu se deixa aparecer com o rosto da crescente, cujos raios pálidos e frios brincam nas pedras e nos telhados úmidos, de repente me acode que estou pensando uma tolice. É doce pensar tolices. O visual é cósmico, tal é a paz de espírito que nos invade.