Certezas próprias da ignorância

“Perguntou Nicodemos: Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!” (João 3.4)

Quando vamos perceber nossa ignorância sobre a vida e sobre Deus? Quando vamos desconfiar que talvez nossas certezas possam ser produtos dessa ignorância? Quando Jesus falou em “nascer de novo” isso deu um nó na cabeça de Nicodemos. Ele tinha certeza de que não fazia o menor sentido. Tinha seus próprios parâmetros e neles não cabia o “novo nascimento” mencionado por Jesus. “Mestre, isso que você disse não faz o menor sentido! E, desculpe, mas não é possível.” Ele tinha certeza assim como temos as nossas. Mas nem a vida e nem o Reino de Deus submetem-se às nossas pretensões de saber exatamente como tudo de fato é ou deveria ser. Os caminhos de Deus são diferentes dos nossos. Para conhece-los e percorre-los, precisamos da humildade de nos deixar guiar por Deus, passo a passo.

É bom quando nos chocamos com o Reino de Deus e percebemos a incompatibilidade dele com nossos parâmetros e métodos. Mas como sempre temos ideias próprias e queremos produzir os resultados por nós mesmos, sistematizamos o Reino, o Evangelho e a fé. O próximo passo é aderirmos ou desenvolvermos regras, métodos, modelos e fórmulas. E assim criamos uma espiritualidade que cabe em nossa caixa. Normalmente uma espiritualidade que nos desumaniza. E achamos que essa desumanização é, inclusive, a prova de nossa espiritualização. E assim vamos perdendo o coração, a sensibilidade e o bom senso. Chegamos a perder o indispensável: O amor pelo outro. Mas achamos que estamos indo muito bem e nos orgulhamos ao ponto de resistir a qualquer pensamento que nos questione. Chamamos de santidade à nossa disciplina religiosa e de obra de Deus as diversas ocupações que caracterizam nossas instituições religiosas. E como nos orgulhamos de tudo isso!

Nicodemos era um autoridade entre os judeus, mas um completo ignorante sobre o Reino de Deus. Talvez não haja muita diferença entre nós e ele. E se houver, não será fruto de nossa capacitação teológica, de nossa pureza doutrinária ou do fato de estarmos na igreja certa e a muito tempo. De sabermos “tudo” de Bíblia. O Reino de Deus não se submete ao nosso poder ou saber. É pela humildade e submissão que acertamos o caminho proposto pelo Evangelho de Jesus. É quando o Espírito Santo tem acesso ao nosso coração para soprar a resposta que sabemos do que se trata o Reino de Deus (Mt 16.17). É quando nos tornamos pessoas amorosas e cheias de misericórdia que a santidade, marca registrada do novo nascimento, está acontecendo em nossa vida. Mas temos nossas próprias ideias e as seguimos com a determinação própria de quem é nada sabe sobre o Reino. Devemos humildemente submeter nossas certezas cristãs ao Espírito Santo. Pois talvez sejam apenas frutos de nossa ignorância.

 

 

 

ucs

 

 

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