Durante a última segunda-feira (20), as atividades do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, o Centro POP, estiveram voltadas para o Dia Nacional da Luta das Pessoas em Situações de Rua (19 de agosto). A data lembra a chacina na praça da Sé, região central da capital paulista, quando dez pessoas foram atacadas enquanto dormiam; além de outros episódios.
A comemoração trouxe reflexões e anúncios de políticas públicas voltadas para os usuários do Centro POP. Serviços voluntários e a presença de líderes de igrejas da cidade fomentaram o apoio à causa. Além disso, uma palestra com o professor dr. Décio Bessa, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), apresentou um panorama da problemática através de resultados de sua pesquisa em torno do tema.
Para o secretário de Assistência Social, Gilberto Souza, não apenas nesse dia, mas durante o cotidiano, o trabalho do Centro POP tem buscado oportunizar a pessoas em situação de rua que participem de programas e oficinas, potencializando a reinserção no mercado de trabalho. “Essa é uma bandeira da secretaria que faz com que tenhamos um olhar clínico para essas pessoas. Estamos buscando parcerias, tanto no público como no privado, e, pensando nessa situação, não só o Centro POP, mas todos os CRAS e CREAS”, disse.
Leandro de Jesus, um dos usuários do espaço, já passou por outros centros e acredita que ainda há muito o que desenvolver em Teixeira de Freitas. Ele frequenta o espaço quase todos os dias e elogiou o que é realizado. Segundo ele, o maior problema é fora do Centro, seja para arrumar emprego ou tirar algum documento. “Quando a gente não arruma alguma coisa pra fazer, aqui é o lugar mais certo, fica mais protegido da rua, do uso de álcool, qualquer entorpecente, briga na rua. Mas tem muito chão pela frente, acho que aqui ainda está começando”, concluiu.
O Centro POP
A coordenadora Paula Alves Cavalcante apresentou o espaço à reportagem d’O Sollo. O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), previsto no Decreto nº 7.053/2009 e na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, constitui-se em unidade de referência da Proteção Social Especial de Média Complexidade, de natureza pública e estatal. Em Teixeira de Freitas, desenvolve atividades desde 2014.
Segundo ela, o Centro atende cerca de 25 pessoas/dia, em sua maioria, adultos do sexo masculino, que chegam por encaminhamento de rede ou demanda espontânea. Eles têm direito a banho, três refeições, lavagem de roupa, provisão de documentos e/ou concessão de passagens rodoviárias, inclusão no CadÚnico; mais duas oficinas e o consultório de rua, entre diversos outros encaminhamentos e atividades realizadas pela rede SUAS ou parcerias voluntárias.
Dentro do Centro POP, existe também o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), que é um serviço social de abordagem e busca ativa para identificar a incidência de indivíduos ou famílias que têm seus direitos violados e que utilizam espaços públicos como meio de moradia ou de sobrevivência.
A equipe técnica é formada pela coordenadora, uma assistente social, um psicólogo, três educadores sociais, uma cozinheira, uma auxiliar de cozinha, uma recepcionista, um guarda municipal e uma auxiliar de serviços gerais.
Discurso, situação de rua e mídia
O professor dr. Décio Bessa desenvolve uma pesquisa dentro da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), vinculada a projetos de Iniciação Científica, intitulada “Discurso e situação de rua na Bahia”.
Um dos objetivos principais é analisar notícias de jornais publicadas nos últimos três anos, na Bahia, observando como a situação de rua é pautada, a frequência em que é noticiada, a identificação dos indivíduos, como o problema é tratado, o preconceito e a discriminação, as políticas apresentadas, entre outros aspectos.
“Em um dia que traz à memória algo muito triste, um massacre, é lembrar que isso, de forma alguma, deveria ocorrer. Desde 2004, diversas lutas têm sido empreendidas e conquistas, quando você dá visibilidade a formas de garantir que o direito chegue. A relevância de estar aqui [no Centro POP] é muito grande para que as pessoas reflitam o que ocorreu e tenhamos uma perspectiva de melhora”, comentou.