CEM DIAS DE ESCURIDÃO

Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão. Confúcio (551-479 a.C)

Houve um tempo em nosso País – e não faz muito – que falar sobre educação significava algo tão grandioso quanto sagrado, não se contestava o significado e o valor da instrução formal, ao contrário, a família, além de reconhecer a instituição escola e seus propósitos, fazia dela a continuidade do lar e o espaço indispensável à formação dos filhos, a quem os entregava em plena confiança.

Mudaram os tempos, sim; mas, o que mudou na Bahia em face da omissão ora perpetrada, que submeteu milhares de jovens a ausência escolar por conta de professores que se recusaram temporariamente ao exercício profissional, à prática do ensino e ao governo leniência na solução da crise instalada?

A sociedade se calou, a escola fechou suas portas e o governo postou-se num mutismo incomum, quase submisso, como se nada houvesse mais a tentar para a solução do impasse o qual, segundo os professores, resultante muito mais da sua própria inação governamental que, bem antes, acordou e assumiu uma proposta de natureza salarial a que se recusou cumprir, criando-se um imbróglio jamais visto até então na administração publica do Estado.

Para muitos, um apagão sem limites e de consequências desastrosas ao longo de cento e quinze dias!

A juventude baiana, aqueles da escola pública à conta do Estado, inclusive os que sonhavam com o próximo vestibular, trilharam os caminhos da desilusão e incerteza. Foram-se os dias necessários à integralização curricular, com a devida qualidade, corroídos pelo tempo empregado no movimento grevista, associando-se a tanto a tristeza da perda dos conteúdos escolares não oferecidos, do ensino básico ao médio, que deveriam conduzir ao conhecimento e, em consequência, perdidos de forma irreversível.

Que exemplos de cidadania, de direitos e obrigações, podem ser observados hoje por aqueles envolvidos e, também, quem sabe, no amanhã pelo prosseguimento “da luta por melhores condições remunerativas”, em paralelo aos serviços educacionais aguardados pela juventude baiana e que se mostraram, infelizmente, indisponíveis?

Muitos definem educação como a luz ao final do túnel, farol a indicar saídas para a transformação do homem, mas o que se presenciou foram mais de cem dias de escuridão, sem claridade ou esperança, um apagão inaceitável, não se propondo como alternativas expectativas outras favoráveis no interesse maior dos aprendentes, do futuro deles no pleno direito à educação consagrada na legislação maior do Estado e do País.

A crise, como fato social, por vezes revela condutas, levanta o véu a encobrir interesses e estes nem sempre confessáveis. É inaceitável, mesmo se reconhecendo o direito à greve, não se voltar um olhar apropriado em direção à realidade estudantil, ansiosa por formação com qualidade, meio que habilita o cidadão ao trabalho e à vida, preferindo contemplar-se o próprio umbigo.

Infelizmente, esqueceram ou pouco sensível foram: educação pública gratuita se faz pelo Estado, com a participação da sociedade e, claro, com docentes! Afinal, a lição que fica não engrandece a gregos ou troianos, ela mais desserve e menos ilumina. Resta, assim, lamentar o triste record de mais de cem dias de escuridão. Reflita-se, pois!

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