Em 1992 conheci o celular, que chamavam de “tijolão”, estava no carro com um amigo e ele puxou a antena, abriu o celular e atendeu, achei estranho, como ter ligação assim dentro do carro? Depois disso foi diminuindo de tamanho e ganhando novas funções e interagindo mais. Neste pequeno aparelho esta tudo o que precisamos para viver ou morrer. O celular fala de mim, da minha relação com os outros, da dificuldade de viver a vida, e da fragilidade de nossa existência. Importante é compreender que certas coisas só podem acontecer em determinados momentos, nem antes, nem depois e estou aturdido com a velocidade dos fatos na telinha do celular, com este mundo super conectado, e sei que o futuro deve realizar-se, talvez com um movimento para a desconexão, já que da forma que vai a privacidade está ameaçada.
Seu nascimento desencadeou uma explosão de contatos humanos, que estão se deteriorando pela superficialidade, nós somos astros moribundos, famintos dentro de nosso próprio vazio. Antes, o externo era o outro com contato visual e calor humano. Agora o encanto é a tela do celular, e a percepção pela tela faz a realidade, mesmo que essa percepção seja uma mentira. Fundamental é que hoje vivemos as superfícies. Somos como morcegos que abandonam as arcadas do nosso interior e nos precipitamos em rasantes sobre a vida nos outros com nossas postagens. Para os jovens que tem os olhos limpos como os olhos das bonecas o que está errado é querer transmitir o borbulhar da juventude de forma artificial.
E onde fica a essência? Não sei, mas sei que tudo é discutível nas redes sociais. Cada dia que passa descubro novos encantos na vida através do celular. Os heróis das serenatas, dos piqueniques das histórias em quadrinhos estão mortos isto já deixamos para trás, para está geração apenas o luxo do desejo satisfeito rapidamente.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.