Carta a Filemom

“Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta.” (Filemom 1.18)

Esta semana vamos refletir na carta mais pessoal de todas as cartas escritas pelo apóstolo Paulo. Ele escreveu muitas dirigidas a igrejas, a comunidades cristãs. Escreveu outras duas a Timóteo e uma a Tito, companheiros de ministério. Ele chegou a ser pessoal nestas cartas, mas não como na carta escrita a Filemom. Alguns consideram que somente a carta a Filemom poderia ser considerada de caráter realmente pessoal. As endereçadas a Timóteo e Tito estão, como as escritas às igrejas, repletas de ideias e perspectivas teológicas. A carta a Filemom transborda, não de ideias ou doutrinas ou afirmações teológicas, mas de afeição, bondade e ternura. Paulo escreveu a um amigo em favor de outro amigo.

Eis o que nos recomenda o Evangelho: sermos amigos que participam e auxiliam outros amigos, especialmente quando entre eles, por quaisquer razões, questões difíceis surgem. O ministério natural dos alcançados pelo Evangelho de Cristo é o da reconciliação. Em lugar de escolher um lado, mesmo em face do que poderia supor ou afirmar a lei, Paulo aplica os princípios presentes em um novo código, de uma nova perspectiva: o Reino de Deus. O apóstolo conhecia a legislação que tratava de escravos fugidos. Filemom era seu amigo e é bem provável que os escravos da casa de Filemom já haviam prestado serviços a Paulo. Há quem pense que Paulo já conhecia Onésimo de outras ocasiões. As circunstâncias que o levaram ao apóstolo possivelmente envolviam um furto seguido de fuga. Talvez um furto para possibilitar a fuga. E Onésimo, o escravo fugido, acabou diante de Paulo. E Paulo levou-o diante de Cristo.

Paulo ajuda Onésimo a voltar para Deus e em seguida a voltar para Filemom. Era preciso que fosse assim. O escravo em busca de liberdade aprende com um prisioneiro o verdadeiro sentido de ser livre. O caminho de volta o levaria para muito além de onde qualquer outro caminho o poderia levar. Ao refletirmos essa semana nessa carta tão pessoal e singela do apóstolo que escreveu cartas tão amplas e profundas, poderemos reencontrar detalhes preciosos de nossa fé e humanidade. Poderemos encontrar inspiração para compreendermos que o que o Evangelho nos leva a ser está ao alcance de todos nós, pela graça, em meio aos dramas que nos envolvem e oportunizam o exercício com o outro do mesmo amor que inspira o cuidado de Deus conosco. Porque o Evangelho de Cristo revela-se presente em nós, não no que pretendemos fazer para Deus, mas no que fazemos uns aos outros.

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