Caetano Veloso

Caetano Veloso

Está além da imaginação humana dizer o quão enigmático é o sublime. É impossível crescer sem antes se tornar vulnerável.

Quando os americanos chegaram à Lua, Caetano estava preso numa cela escura. Foi nessas condições que viu as imagens do planeta Terra tiradas lá do alto, e isso deixou-o comovido. Confinado ao espaço mínimo que o aprisionava, terá chorado perante a visão de um planeta livre, vagueando pelo espaço. Esta é a música mais bela na sua alma. “Quando eu me encontrava preso. Na cela de uma cadeia foi que eu vi pela primeira vez as tais fotografias…”.

Passou dois anos no exílio. Acredito que as coisas que não fizermos nos definem tanto quanto as que fizemos. Acho que nunca é coincidência quando paramos diante de uma porta em determinado momento, mesmo que nossa decisão seja jamais abri-la. As portas que deixamos fechadas são tão importantes quanto as que atravessamos. As pessoas preferem esquecer, e, na hora do ajuste de contas, ninguém fala das portas que ficaram fechadas, apenas das que escolheram abrir.

Se Caetano não tivesse no exílio não escreveria está música linda, e marcante. A vida é longa e repleta de um número infinito de decisões. Aquele menino franzino que se apaixonou cedo pelas grandes vozes do rádio (Vicente Celestino, Noel Rosa e Nelson Gonçalves, entre outros cantores que animavam o casarão da família), enfurnava-se no cinema para ver clássicos italianos, em especial os de Federico Fellini, e precocemente mostrou interesse por poesia e filosofia, nesta fase da vida a visão do mundo entra em foco lentamente saindo da névoa densa do útero materno, e encontrou o amor de D.Cano e a efervescência cultural de Santo Amaro.

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