Cerca de 50 pessoas participaram da ação na noite desta quarta-feira.
PM afirma que elas já foram dispersadas do local e que trânsito flui.
Um grupo de 50 pessoas tentou interditar novamente a pista da BR-101, no sul da Bahia, por volta das 19h de quarta-feira (12). A ação ocorreu após o enterro do agricultor Juraci dos Santos Santana, de 44 anos, crime que motivou também o primeiro protesto, na terça-feira (11).
A polícia reforçou a segurança no local e o trânsito foi liberado. Motoristas tiveram dificuldades em passar com os veículos por causa das pedras e pedaços de pau espalhados na pista. O grupo também jogou pedras contra carros e caminhões que trafegavam pela via. Em seguida, o Corpo de Bombeiros foi acionados e fez a limpeza da pista. “A interdição durou pouco tempo e rapidamente conseguimos liberar o fluxo e já voltou à normalidade”, disse Jalmir Nunes, policial rodoviário federal.
O clima durante a noite em Buerarema ainda era de tensão no final da noite de quarta-feira. As ruas estavam praticamente vazias. Para quem presta serviços e precisa trabalhar, a situação está complicada. “A gente depende da região cacaueira, depende de tráfego de veículos e está parado desse jeito”, disse o instalador Lucinei Oliveira.
Mais de 100 militares do Exército desembarcaram no aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus, no sul da Bahia, nesta quarta-feira (12), para reforçar a segurança da região devido ao conflito entre agricultores e indígenas.
Protesto e depredação
O último protesto durou quase 15 horas, quando os manifestantes deixaram a rodovia e seguiram para o município. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, a pista só pôde ser liberada nesta quarta, após limpeza e varredura por conta dos objetos queimados durante todo o dia na manifestação
Na manhã desta quarta-feira, foi mais fácil observar os estragos causados durante o protesto. Um posto de gasolina que fica às margens da BR-101 não funcionou porque os caixas foram destruídos. Foram quebradas as placas de sinalização do posto e a loja de conveniência foi saqueada. Os manifestantes ainda tentaram atear fogo ao tanque de gasolina, até que foram impedidos pela Força Nacional.
Duas agências bancárias foram depedradas e não funcionaram. Também foram destruídos pedágios no trecho da BR-101. Por toda a cidade, são encontrados pedaços de pedras e estilhaços causados pelos conflitos do dia anterior.
Governador comenta
O governador da Bahia, Jaques Wagner, informou em entrevista nesta quarta-feira (12) que conversou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com a direção do Ministério da Defesa e com a Presidente Dilma Rousseff sobre a situação na região.
“Cada um tem suas convicções, têm o direito de defender aquilo que acredita que é o seu direito. Agora, não pode fazer isso à margem da lei. Nem assassinando, como aconteceu com aquele produtor rural, e nós estamos na investigação, nem querendo depredar o patrimônio público, quebrando uma ponte de uma estrada tão importante quanto a BR-101”, disse o governador durante cerimônia de inauguração do complexo policial de Feira de Santana, a 100 km de Salvador.
O governador informou que deve enviar, nesta quarta-feira, um documento solicitando a chamada Garantia da Lei e Ordem (GLO) e que a tropa de choque foi enviada ao local como reforço para que a Polícia Militar não deixasse todos os postos devido a um único problema.
Wagner também comentou que se dirigiu ao gabinete de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e que é necessário que a Corte crie uma “normativa pacificadora” para a região. “O conflito existe e ele só vai ser terminado com uma sentença do maior terminal do Brasil, que é o Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso não acontece, nós temos que ter um pacto de convivência”, disse.
Crime
O morador do assentamento de agricultores de Ipiranga, na zona rural do município de Una, foi morto na noite de segunda-feira (10). Em entrevista ao G1, no final da manhã desta terça, a esposa da vítima, Elisângela Oliveira, relatou o crime.
Ela conta que estava em casa com o marido e a filha de 17 anos, por volta das 21h, quando quatro homens armados invadiram a residência e disparam vários tiros contra Juraci dos Santos Santana, de 44 anos.
Elisângela relata que os suspeitos arrancaram a orelha do marido depois que ele estava morto. “Estávamos vendo a novela quando eles chegaram. Eles ainda colocaram fogo no nosso carro e ameçaram nos matar caso apagássemos [o fogo]. Passamos o resto da noite escondidas no mato. Realmente, nada vai bem por aqui”, desabafou Elisângela.
A área onde acontece o protesto está situada em uma zona de conflito entre agricultores e indígenas. O corpo do ex-agricultor ainda não foi necropsiado pelo DPT e só deve ser liberado na manhã de quarta-feira (12).
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que tomou conhecimento do caso e que está acompanhando por meio da sua coordenação regional. “As circunstâncias e o envolvimento de indígenas no ocorrido ainda não foram esclarecidos”, disse em nota.
Fonte: G1