Buerarema: Força Nacional de Segurança se reúne com lideranças da PF

As tropas chegaram à região neste domingo (18), embora nem a Polícia Civil e nem a Militar confirmem a presença dos soldados na cidade

Tropas da Força Nacional de Segurança Pública chegaram neste domingo (18) no município de Buerarema, localizado no sul do Esdado. A presença do contingente na região, contudo, parece ter afetado pouco o dia-a-dia dos moradores. Isso porque nem mesmo as Polícias Civil e Militar conseguem confirmar a presença dos soldados na cidade.

“Que eu tenha visto, eles não chegaram”, afirma a delegada Roberta Santana Albano, “Mas eu também estou trabalhando dentro da delegacia. Pode ser que estejam aqui e nós não tenhamos visto. Não posso dizer com veemência”.

“Eles estão para chegar na tarde de hoje”, garante Carlos Magno, comandante da Polícia Militar na região. Ele explica que os soldados chegaram à região no domingo, mas que não foram até a cidade ainda. Segundo ele, o patrulhamento na região tem sido reforçado por PMs da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe/Cacaueira) e, atualmente, conta com cerca de 20 policiais.

Buerarema: Força Nacional de Segurança se reúne com lideranças da PF
Três veículos foram destruídos em protesto na semana passada (Foto: Gilvan Martins/Blog do Pimenta)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O reforço parece estar garantido a paz no município, que na última sexta-feira (16) vivenciou momentos de tensão durante uma manifestação de produtores rurais que resultou na queima de três veículos oficiais e em um saque à Cesta do Povo na cidade. As Polícias Civil e Militar afirmam que, durante o fim de semana, não souberam de novos casos de violência na cidade.

Apesar disso, é possível que novas invasões de terras por indígenas tupinambás tenham ocorrido e não foram oficialmente registradas na cidade. “Muitas das terras invadidas não pertencem a Buerarema. São territórios de Una e Ilhéus”, explica a delegada Roberta Santana, “Então não tenho uma certeza, não dá para saber porque tem muitas pessoas que não registram aqui e vão para a Polícia Federal”.

Buerarema: Força Nacional de Segurança se reúne com lideranças da PF
Manifestantes fecharam a BR-101 por quase 7h na última sexta (Foto: Oziel Aragão/Plantão Itabuna)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na delegacia da cidade foram feitos os boletins de ocorrência dos casos de invasão em que ocorreram atos de ameaça e lesão corporal. Sem entrar em detalhes, a delegada afirma que estes aconteceram na semana passada e nenhuma situação do tipo foi registrada no fim de semana.

Operação conjunta

Já a Polícia Federal garante estar se articulando com os soldados para desenvolver um plano de ação e manter a paz em Buerarema. Segundo a instituição, as tropas chegaram neste domingo (18) às 18h e na manhã de hoje já realizaram uma reunião com representantes da PF de Ilhéus para definir como será realizada a operação conjunta.

Detalhes da ação não foram divulgados pela PF, mas o Ministério da Justiça confirma que os soldados darão suporte aos policiais federais através de ações ostensivas de patrulhamento – que já estão sendo realizadas. O contingente de oficiais, bem como o armamento empregado na operação, não foram divulgados por questões de segurança.

O delegado Mário Vinícius Neves, da Polícia Federal, teve uma reunião com um juiz de Itabuna a respeito da situação de Buerarema. “O juiz está com ações de reintegração de posse e fui chamado para passar dados do que está acontecendo lá”, afirma Neves, “Mas por questões de técnica jurídica eu não posso especificar qual será a decisão dele para estes casos”.

À respeito do total de fazendas ocupadas pelos indígenas, o delegado afirma que não tem condições de fornecer números precisos. “Não temos este número precisamente porque as comunicações não são feitas. Também entra-se na questão de se as terras seriam legitimamente dos índios e de que títulos de propriedades os donos têm”, explica, “Temos essa informação apenas quando recebemos notícias de pedidos de reintegração de posse. Alguns falam em um total de 12, outros em até 31, mas estes números são muito questionáveis”.

De acordo com o Governo Federal, as tropas da Força Nacional de Segurança devem permanecer na região até o dia 27 de agosto para garantir a segurança na região e prevenir que os conflitos entre produtores rurais e indígenas se agrave. Os soldados estarão sob coordenação e supervisão da Polícia Federal.

Tropas enviadas pelo Ministério da Justiça já haviam atuado em Buerarema entre abril de 2012 e maio deste ano.

Histórico

Durante a última semana, o município vem sofrendo diversos casos de invasão de propriedades rurais por cerca de trezentos índios da etnia tupinambá. Estima-se que pelo menos 12 fazendas tenham sido tomadas à força na região desde o início do mês. Na última sexta-feira (16), proprietários decidiram realizar um protesto na cidade para denunciar o ocorrido e cobrar ação por parte dos órgãos públicos.

A manifestação começou de forma pacífica, por volta das 8h na praça principal da cidade. Lá, eles seguiram até a BR-101 onde, por volta das 10h30, bloquearam totalmente o tráfego de veículos. A situação só seria contornada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) por volta das 17h, depois que três carros oficiais foram incendiados por manifestantes ao tentarem romper o bloqueio. Um deles transportava quatro indígenas, sendo dois deles crianças, de Itabuna para o município de Pau Brasil. Depois de liberarem a BR-101, contudo, os manifestantes retornaram à cidade e atuaram no saque de uma unidade da Cesta do Povo.

Buerarema: Força Nacional de Segurança se reúne com lideranças da PF
Unidade da Cesta do Povo foi invadida e saqueada (Foto: Vermelhinho da Bahia)
Segundo a Agência Brasil, a ocupação das fazendas é uma forma de pressionar o governo federal para concluir a demarcação de uma reserva indígena de 47 mil hectares (470 mil metros quadrados) que abrange parte dos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una.

O conflito fez com que o governador Jaques Wagner solicitasse no mesmo dia apoio ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para o envio de tropas e reforço da Polícia Federal no local. Isso porque as polícias estaduais não têm autoridade legal para atuar em conflitos indígenas.

 

 

Fonte: Renato Oselame/Correio

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