A vida para muitos está pesada como chumbo. O país não vai crescer automaticamente como uma árvore. O brasileiro tem esperança, mas também tem raiva. O futuro virá. Se eu procurar uma ideia nova para este país não sei onde encontrar. Na esquerda? Na direita? No centro?
A esperança, a raiva, a espera, a angústia se afirmam contra todas as superações: a fuga não é senão, de fato, um episódio em minha aventura pessoal. Mas o país está aí, um país repleto do contrassenso, da dominação incompreensível das elites, uma doutrina absurda de exploração, da separação, da morte. Não consigo evitar ainda que por lampejos, o sentimento de culpa ao me abstrair do processo político. Lembro-me de ter experimento um grande aprendizado ao entender que não adianta ser da direita, da esquerda ou do centro, o brasileiro busca sempre o salvador da pátria, o mito. Muitos brasileiros estão esquecendo tudo e enfiando o pé no acelerador, deixando tudo para trás e partindo para o exterior, pelo puro cansaço de tentar. Vivemos num estado permanente de negação. Uma crença cega de que somos diferentes, especiais. Protegidos por um campo de força místico que desvia tudo de ruim.
Para o brasileiro, acredito, basta um bom trabalho, num bom emprego e sistema de saúde com educação para todos, mas nos deparamos com a realidade e ficamos com raiva, por tudo que vivemos há tanto tempo, ter paciência e resigna-se é a solução? Compreendo a mágoa mas é preciso esforço por compreender também o Brasil tal como ele é. De que me serve perceber ao longe tanta coisa que ninguém mais vê? Serve-me para defender quem não tem mais ninguém por si! Mas como defender, se a alienação é uma constante.