A cada dia vamos escrevendo nossa história, a cada dia vamos determinando que história contarão de nós e como seremos lembrados. Nos relacionamentos interpessoais que temos, na maioria das vezes, entramos sem um convite expresso, viemos como irmãos, filhos, tios, avós, pais. Fazemos parte de um enlace que não pudemos escolher. Isso pode parecer quase uma sentença irrecorrível, não pudemos escolher essas relações, mas temos o dom magnífico de escolher como iremos sair da vida dessas mesmas pessoas.
Podemos entrar na vida delas como tios e sair como tios presentes ou tioausentes, entrar como pais e sair como pais responsáveis ou pais omissos, entrar como filhos e sair como filhos-orgulho ou filhos-arrependimento e assim também o é em nossa vida profissional.
A cada dia nos deparamos com situações que nos faz ter que escolher o que escreveremos em nossa biografia, que nos faz escolher como seremos lembrados no futuro, como pessoas íntegras ou pessoas perigosas, como pessoas confiáveis ou como pessoas desonestas, como bons profissionais ou como péssimos investimentos. Muitas vezes não nos damos conta dessa responsabilidade e dessa oportunidade que nos é dada, e acabamos reescrevendo os mesmos erros, repetindo os mesmos péssimos comportamentos e beira à ingenuidade acreditar que esses atos não refletirão em nossa biografia. Claro que irão.
Ao contrário do que se pensa, as pessoas têm boa memória e quando você necessitar, é a opinião delas sobre você que vai prevalecer, e não sua opinião pessoal. É ato de responsabilidade com sua própria vida, estar atento com o que você permite que seja escrito em sua biografia. Além de ato de responsabilidade, é acima de tudo, ato de escolha, e como todos os atos de escolha, há com eles consequências irremovíveis.
Quando se trabalha na seara criminal, vemos todas essas facetas da vida como que com uma lente de aumento que nem sempre são utilizadas em outras áreas jurídicas, pois é ali, no crime, onde a prova testemunhal pode ser decisiva. É ali, principalmente no Tribunal do Juri, que o ser humano se torna pequeno e totalmente dependente do que o outro – corpo de jurado – pensa sobre ele. Ali sua biografia grita!!!
Pequenos atos que poderiam passar por indiferentes, ali no júri, se torna parte de sua personalidade mesquinha revelando uma tendência criminosa, ou toma a dimensão de um estandarte de civilidade e honradez que vai à frente do réu. Além dos fatos inerentes à conduta que gerou o processo, a biografia do indivíduo também vai prevalecer. E é ali que muitos se surpreendem, que muitos chegam a realmente se conhecerem, não como são de fato, ou como acreditam que são, mas se conhecem aos olhos do outro, e as surpresas nem sempre são boas ou agradáveis.
Como toda biografia, os atos maus do passado não se apagam, mas ao contrário de gritarem contra nós, podem ser valorizados, por demonstrarem o quanto evoluímos. Além do que, quanto mais vivemos, com mais páginas se torna nossa biografia, e a grande maioria das pessoas somente terão paciência para ler as últimas páginas, isso nos dá uma imensa possibilidade de mudança e alteração de rota. Reflitamos com Inteligência antes de decidirmos o que queremos deixar escrito sobre nós, pois a página do Hoje, ainda está em branco.