Beber

Beber

Uma tarde, quando eu tinha quinze anos, e meu pai quarenta e dois, perguntei a ele sobre bebida. Por que as pessoas bebiam? Por que algumas pessoas faziam tanto isso?

Estávamos no quarto dos nossos pais, do apartamento que morávamos no bairro de Nazaré. As enormes janelas de madeira quentes com a luz do sol, o céu descaradamente azul. Ainda me lembro onde meu pai estava assim que fechou a porta de correr do armário, as rodinhas rangendo nos trilhos; e ainda me lembro que estava de paletó e gravata preparado para ir presidir audiências na Justiça do Trabalho, bem perto de nossa casa, com aquela sobriedade que se deslocava como um sistema meteorológico só seu.

Eu me lembro desses detalhes como se estivesse cauterizado em mim, dizendo: “Preste atenção: “Escute bem”, “Escutar o quê?”. Um único momento: naquele dia, meu pai disse que beber não era errado, se com moderação, mas que era perigoso. Não era perigoso para todo mundo, mas era perigoso para se tivéssemos em má companhia.

Era emocionante compartilhar qualquer tipo de “nós” com meu pai, que era uma figura mágica para mim. Havia sempre alguma parte dele que estava em outro canto, que era sua dedicação ao trabalho. Aprendi a lição e só tomo vinho com minha companheira de vida.

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