Quando completei cinquenta anos, sabe aquele livro que a gente lê quando criança, em que podemos escolher o que acontece a seguir e, dependendo do que escolher, você vai para uma página diferente, nesta idade o livro tem menos folhas a escolher, mas ainda tem muitas, e quando as coisas acontecem, a gente lida com elas. Normalmente acontece alguma coisa em que a gente não pensou, mas nunca morrer num quarto de hotel, de ataque cardíaco, talvez o baterista Taylor Hawkins, que era casado e tinha dois filhos, e no seu organismo tinha maconha e opioides.
Ele ficou em silêncio no hotel e ficar em silêncio é como esvaziar o lixo. Quando você para de jogar lixo no vazio – palavras, palavras e mais palavras, o barulho ensurdecedor daquela bateria algo importante sobe a superfície pensamentos e sentimentos que ele nem mesmo sabia existirem. Talvez tudo que sentia quando tocava e estava longe da família, às vezes, é mais bem expresso através do silêncio. Então ficou sentado naquele quarto de hotel, perto das drogas, amortecidos, os sons da sua bateria, uma ou outra voz na rua. Era o dia vinte e cinco de março longe de casa em Bogotá. O coração inchou com o barulho da bateria e das drogas, e a saudade de casa. É ai que começa esta história sobre a complexidade do sucesso com os desafios diários existências.
Ele continuava tocando buscando ser admirado pelos fãs e também pela família, sendo ele mesmos, com um conjunto de vulnerabilidade, de anseios e inseguranças como se fôsse espiar naqueles cantos escuros, acender a luz e descobrir um bando de baratas. Mas em parte porque a vida segue e o silêncio ajuda-nos a confrontar nossos demônios quando eles surgem. E eles certamente surgirão, porque todo mundo tem demônios, grandes, pequenos, antigos, novos, silênciosos, barulhentos, sejam de que tipo forem. E ele não aguentou lutar com seus demônios e morreu.
Muito bom o texto