Emprego e renda são os piores problemas, diz estudo da Firjan. Dos 500 piores municípios, 154 estão na Bahia
“Ah, minha filha. Arrumar emprego aqui é difícil demais. O povo vai todo pra São Paulo”. O depoimento de dona Lindaura Vieira de Souza resume a situação do município onde ela mora: Tremedal, na Chapada Diamantina. A cidade é a pior em desenvolvimento econômico de todos os 5.565 municípios existentes no país, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), um estudo anual da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Além de Tremedal, outros cinco municípios baianos estão entre os 15 piores do Brasil: Gongogi, Mansidão, Pilão Arcado, Arataca e Tabocas do Brejo Velho (ordenados do pior para o melhor colocado). Para determinar o índice de desenvolvimento dos municípios, a Firjan considerou três indicadores: emprego e renda, educação e saúde, atribuindo notas de 0 a 1 a cada um deles. Os dados se referem ao ano de 2010.
No caso de Tremedal, por exemplo, o índice mais crítico foi o de emprego e renda, que obteve nota 0,1. A dona Lindaura do início do texto conta que emprego por lá, só na prefeitura. “O resto é só lojinha, lanchonete… não rende nem um salário mínimo”. Ela tem três filhos, mas nenhum mora na cidade.
“Estão todos trabalhando em São Paulo. Já conseguiram comprar casa, carro. Estão todos bem, graças a Deus”, comemora a dona de casa, que também vivia em São Paulo, mas teve que voltar há alguns meses para cuidar dos pais idosos.
O prefeito de Tremedal, José Bahia (PP), confirma cada palavra de dona Lindaura. “Aqui não tem investimento privado nenhum. Dos 17,7 mil habitantes, 1,5 mil trabalham na prefeitura e outros 4 mil vivem do Bolsa Família. A maioria vai embora para São Paulo, sempre foi assim” , relata. Segundo ele, a maior dificuldade está no clima da região: “O município fica no semiárido, e 60% da população vive na zona rural. Como temos grandes problemas com a seca, com a falta d´água, fica difícil administrar”, relata Bahia.
Queda
Outro município que vai mal das pernas é Mansidão, no Oeste do estado. De 2009 para 2010, ele despencou da 161ª colocação, dentro do estado, para o 412º lugar. Nesse intervalo, a cidade até cresceu em educação e saúde, mas foi puxada para baixo pela forte queda no índice emprego e renda. Saiu da nota 0,5, em 2009, para ínfimos 0,08 em 2010. O que aconteceu nesse intervalo, quem explica é o prefeito Davi Frank (PSD). “A maioria dos empregos era na prefeitura, mas aí veio o TAC, do Ministério Público, e tivemos que fazer concurso público. Tivemos que cortar muitos cargos”.
Com relação à forma de sustento da população, a situação em Mansidão não é muito diferente da de Tremedal. “Temos 12 mil habitantes, o que dá uma média de 3 mil e poucas famílias. Mais de duas mil delas vivem do Bolsa-Família”, conta o prefeito. Os que restam, ou são aposentados, ou vivem da agricultura familiar. “O comércio é muito fraco. Não chega nem a 15 lojas registradas. A maioria é muito pequenininha, informal”.
Outro município com queda acentuada entre os anos de 2009 e 2010 foi Tabocas do Brejo Velho, no Oeste do estado. Em 2009, a cidade estava em 335º lugar, mas eu 2010 caiu para 409º. É importante frisar que três municípios baianos não entraram no ranking por não terem enviado os dados referentes a emprego e renda. São eles: Presidente Dutra, Antônio Gonçalves e Caraíbas.
E o item emprego e renda é justamente o principal problema enfrentado pelos municípios que compõem a lista dos dez piores do estado (que, além dos seis já citados, inclui Nova Redenção, Oliveira dos Brejinhos, Cansanção e Várzea do Poço). A cidade de Tabocas do Brejo Velho, por exemplo, conseguiu nota 0,66 no quesito saúde, o que é considerado “moderado” pela Firjan, mas teve sua nota puxada para baixo pelo déficit de empregos: nota 0,09, tida como “baixa”. Entre 0,4 e 0,6, a nota é considerada “regular”, e acima de 0,8, alta.
No item emprego, todas essas dez cidades obtiveram notas consideradas baixas. A maior delas foi a de Várzea do Poço (0,26) e a menor, a já citada Mansidão. Já em educa ção, a situação é um pouco melhor, mas ainda crítica.
Todos tiveram notas regulares. A mínima foi 0,43 (Arataca) e a maior, 0,57 (Nova Redenção). As notas de saúde variaram entre 0,54 (Várzea do Poço) e 0,66 (Tabocas do Brejo Velho). Nenhum desses municípios obteve nota alta.
Mesmo Salvador, a cidade melhor colocada na Bahia, fez feio perante as outras capitais: 21ª entre 26. A Bahia ocupou a 18ª colocação entre 27 estados.
Indústria naval leva crescimento a Maragogipe
Depois de tanta notícia ruim, é bom dizer que a Bahia também tem municípios que avançaram nos últimos 10 anos. E muito. Foi o caso, por exemplo, de Maragogipe, no Recôncavo baiano. Nesse período, a cidade dobrou sua pontuação no IFDM, passando de 0,36, média considerada baixa, para 0,72, avaliada como moderada pela Firjan.
Não é à toa que o prefeito Sílvio Ataliba (PT) anda todo orgulhoso. Depois de oito anos, ele deixa a prefeitura com crescimento em todos os índices: emprego e renda, saúde e educação. Este último foi a prioridade do prefeito, que é professor primário e conhece de perto a realidade do sistema de ensino. “Antes, só 100 dos 300 professores tinham ensino superior. Hoje, 85% deles são formados”, gaba-se ele, que aumentou o salário dos professores, fez parceria com uma boa editora e diminuiu o número de escolas.
“Tinha muita escolinha sem estrutura em cada povoadozinho, com 15 alunos. Fechamos e investimos nas maiores”, explica. Com isso, conseguiu aumentar a nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2 para 3,8, nota superior à meta estipulada para 2017 (3,5). Mas foi no item emprego e renda que a cidade apresentou maior avanço: cresceu de 0,35 para 0,85, índice considerado de alto desenvolvimento. Essa vitória não tem a ver com a gestão municipal, mas com a instalação de uma empresa de construção de plataformas de petróleo na região.
Emprego e renda foi o item responsável pela ascensão de cinco dos dez municípios que mais evoluíram na Bahia. O município de Itagibá, por exemplo, que fica no Sudoeste da Bahia, cresceu de 0,2 para 0,75 em 10 anos. Já a cidade de Dom Basílio, no Centro-Sul, quase não cresceu nesse quesito. Em compensação, a saúde evoluiu de 0,27 para 0,8, quase o triplo. São Félix, no Recôncavo, cresceu mais ainda: tinha 0,24 e agora tem 0,9, quase a nota máxima.
Já em educação, a que mais evoluiu foi Rio Real, na divisa com Sergipe, que teve 0,3 em 2000 e 0,67 em 2010. Entre os dez primeiros do estado, destaca-se Alagoinhas, a 116 quilômetros de Salvador. Após a implantação de duas fábricas de bebidas, a cidade chegou a 0,68 em emprego e renda, e é a nona melhor do estado.
Bahia melhorou, mas não tem áreas de alto desenvolvimento
Comparando os resultados do IFDM de 2000 e 2010, pode-se observar que houve uma evolução positiva da Bahia neste período, conforme mostram os mapas abaixo. O crescimento é nítido pela quase extinção dos municípios de baixo desenvolvimento de um mapa para o outro, representados pela cor vermelha. Por consequência, houve um aumento de áreas de desenvolvimento regular e moderado, preenchidas na ilustração com as cores amarela e azul claro, respectivamente.
No entanto, se for analisada só a saúde, o mesmo mapa apresenta alguns pontos de alto desenvolvimento, embora bem menos do que os encontrados nas regiões Sul e Sudeste. Em contrapartida, se for avaliado apenas o item Emprego e Renda, o mapa do estado fica quase todo vermelho, com pontos amarelos, e outros poucos azuis.
Fonte: Correio da Bahia