“Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.” (Romanos 7.18-19)
Essa declaração de maldade pessoal é uma ofensa ao espírito contemporâneo. “Nada mais doentio do que reprovar a si mesmo!” Não somos orientados a nos julgar, mas a nos afirmar. Cada um deve dar plena vazão a si mesmo, ao que deseja ao que acha apropriado. A coragem de confirmar o que eu quero, a despeito de qualquer coisa em sentido contrário, é a expressão máxima de saúde e o retrato de pessoa bem resolvida. Tudo isso parece uma larga avenida que nos conduz à felicidade e realização. Todavia, é um beco escuro que oculta perigos de morte.
Na Jovem Guarda cantou: “tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda”, mas isso foi menos uma confissão e mais uma atitude de transgressão como identidade. Algo como “sou mesmo, faço mesmo, e daí?”. Não é o que Paulo está fazendo. Ele está revelando o que constatou no profundo contato com sua natureza. Ele está dizendo: “eu não sou bom; ainda que queira ser. Pretendendo fazer o certo, faço o errado. E não chamo o errado que faço, de certo”. Não seria isso excesso de rigidez? Não estaria o apóstolo se cobrando demais? Além da conta?
Paulo esta diante de Deus e tomado pela consciência e pela beleza de quem Deus é. Diante de Deus e amado por Ele, Paulo percebe que deveria ser melhor. Percebe que sua índole é diferente da de Cristo. Isso tem significado para ele e o leva a assumir que esta diferença é maldade e não identidade. Não se tratava de ter um gosto diferente, mas de gostar do que é errado. A declaração de Paulo não é fruto de confusão sobre si, mas de clareza. A mais exata declaração sobre nós é a declaração de Paulo sobre si. Admitido isso, Cristo é nosso destino, assim como o foi para o apóstolo. A negação jamais será uma cura.