Não temos segurança hoje em Salvador, fui assaltado na Barra há algum tempo, mas nada mudou, na época estacionei o carro na Perine e vi, a uns dez metros de mim, encostado num poste, um homem de barba por fazer, com uma mão no bolso da calça. Eram sete horas da noite. Não queria morrer assim e ser visto, em primeira mão, pelos pedestres. Não queria a viagem do rabecão, nem a autópsia. Não queria moscas sobre as minhas feridas, nem gente em volta a me chamar de coitado. Tenho morrido algumas vezes por aí, mas de cansaço e desilusão, nestes últimos quase 10 anos, com tanta insegurança.
A morte propriamente dita é o primeiro passado da criatura a caminho do esquecimento e nunca se deve morrer assim. O que existiu foi a minha indisposição para morrer à toa, por nada, lembro que o céu estava limpo, revelando as estrelas. Com o medo que estava, meus músculos ficaram moles como gelatina, a mente confusa. Tomei uma coronhada e senti uma pontada. Deus sabe das dificuldades por que passei. Não há talvez, quando se é assaltado, porque não há escolha. Todos os pensamentos que preenchem a mente são pela sobrevivência. Tudo pode ser tirado menos a vida. No assalto existe um intervalo entre o estímulo e a resposta. Nesse intervalo está nosso poder de escolha. Em nossa resposta, está nossa liberdade, abrindo um espaço entre o estímulo e a reação para escolher sua liberdade.
Puxa vida! Li e sofri com o narrado. As reflexões me ampliaram o horizonte do momento tão verdadeiramente escrito. Você é um escritor fantástica. Escreve e nos convida a embarcar em suas histórias e pensamentos.