Hamilton Farias de Lima, professor universitário
“Oh! Que formosa aparência tem a falsidade” William Shakespeare (1564-1616)
A educação, sabidamente, imprime no indivíduo conhecimento, valores e habilidades, ao tempo que o imerge de cultura na medida dos seus interesses, como frutos das percepções próprias do mundo que o cerca, apreendendo e desenvolvendo seus potenciais latentes ao longo da existência.
Será, por conta da variedade de conhecimentos apreendidos, das experiências do ato de viver, das disputas e embates, da concorrência no meio em que habita, da necessidade de sobreviver e de se manter em posição de destaque social, seja o homem tão multifacetado e, portanto, constituído de tantas identidades?
Raimundo Correia, um maranhense ilustre do século XIX, além de magistrado, professor e poeta, no seu poema “Mal Secreto”, analisa uma das faces da alma humana, conforme os versos a seguir:
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
Chegado o final do malogrado 2016, senão para todos, mas, com certeza, para muitos, considerando-se as estripulias e os malfeitos que trouxeram vergonha e repúdio da sociedade brasileira, com a ajuda do poeta encimado, é forçosa acatar as ponderações centenárias do seu autor mais que famoso: “Se se pudesse espírito que chora, / Ver através da máscara da face,/ Quanta gente, talvez, que inveja agora /Nos causa, então piedade nos causasse!”.
A educação não é, por si mesma, a responsável por descaminhos de “Quanta gente que ri, talvez existe, /Cuja ventura única consiste/ Em parecer aos outros venturosa!“; já a moral que praticam ou a sua ausência , aliada à falta de caráter que habitualmente exibem e à impunidade reinante, explicam muito mais as faces sombrias de suas aparências !
Necessário faz-se ficar atento aos que prometem e não cumprem em nome do povo, aos que se acumpliciam e desviam recursos, aos que se mantém no poder manipulando a opinião pública – até porque estas são as faces reais dos demagogos dos tempos atuais-, que precisam ser afastados em função dos novos tempos e do bem-estar brasileiro.