Quando meu pai faleceu em 2018, além da dor, tínhamos que fazer a arrumação, muito a ser feito. Tantas coisas acumuladas, ano após ano. E aí vem uma mini-explosão, e tudo o que foi juntado — cartas, livros, passaporte, fotos, objetos favoritos guardados em gavetas e prateleiras — tudo isso é distribuído no rastro do foguete que se vai, ou do cometa, ou da onda de energia, ou do sopro silencioso de vida, e chega para nós a hora de vasculhar, organizar, doar e descartar. Pedaços de uma alma, espalhados aqui e ali, sendo difícil aceitarmos a ideia de que nos tornamos simples punhados de pó.
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