“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.” (Mateus 5.10)
O Reino de Deus é Reino de Justiça e Paz. É Reino que se alinha a todo esforço por justiça verdadeira. Na perspectiva cristã temos duas dimensões ou realidades onde a justiça deve ser buscada e manifestada. A primeira é a justiça espiritual, que diz respeito à nossa condição diante de Deus. Somos seres cuja existência inclui a imagem e semelhança com o Criador. Somos capazes de honrá-lo com nossas atitudes. Mas, somos pecadores, o que significa que somos condenáveis aos olhos de Deus. Nossa vontade, inclinação e desejos seguem fluxos que contrariam o coração de Deus, muitas vezes. Somos carentes de uma justiça que não podemos produzir por nós mesmos. Mas Deus em seu amor nos justifica por meio da fé em Cristo (Ef 2.8). A justiça de Deus nos justifica. E diz Paulo que, tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).
A segunda dimensão em que a justiça precisa se manifestar é na vida e relacionamentos entre nós. Deus se interessa e requer também essa justiça. E ela compete a nós. Criamos uma sociedade injusta de várias maneiras, e Deus requer que nos posicionemos ao lado da justiça e que lutemos por ela. Se nos descuidamos da justiça, nossa liturgia perde o valor. Afinal, seria desamor o descuido com a justiça e não podemos amar a Deus e não amar ao próximo. Veja o que os profetas disseram sobre isso: Palavra do Senhor por meio do profeta Amós: “Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!” (Am 5.21,23-24). Por meio do profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor: Administrem a justiça e o direito: livrem o explorado das mãos do opressor. Não oprimam nem maltratem o estrangeiro, o órfão ou a viúva; nem derramem sangue inocente neste lugar.” (Jr 22.3) Por meio de Miqueias: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.” (Mq 6.8).
Nas Escrituras temos o mandamento de nos posicionar contra a injustiça, de lutar pela justiça e de fazer isso em favor dos mais fracos. “Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados”. (Pv 31.8-9) Foi o que fizeram cristãos como Willian Wilberforce na Inglaterra, Martin Luther King Jr nos Estados Unidos, Don Helder Câmara no nordeste brasileiro, e tantos outros. A justificação pela graça por meio de Cristo deve nos levar a nos comprometer com a justiça em nosso mundo. E isso poderá custar perseguição, incompreensão, críticas e dores. Mas, diz Jesus, bem-aventurados seremos. Nossa fé aponta para a eternidade, mas também chama a compromissos aqui e agora. Que em nome de Jesus a justiça seja nossa causa e que aquele que não tem voz, possa contar com a nossa.