Aos 118 anos, baiana pode ser a mulher mais velha do mundo

Ela fez 118 anos dois dias após a mulher mais velha do mundo pelo “Guinness World Records”, o livro dos recordes, morrer com 116 no início do mês nos Estados Unidos.

Mas a baiana Eurides Fagundes, nascida em Salvador em 6 de dezembro de 1894, diz não ligar para a marca. “Pra que mexer nessas coisas, meu filho? Tá tudo legal assim”, ri “Vovó”, como é chamada na associação beneficente em que mora na capital da Bahia.

“Ela ainda é tão lúcida que, às vezes, a gente até desconfia da idade”, diz Maria Helena, 51, cozinheira do local.

A data está na certidão de nascimento (emitida em 1976) e no documento de identidade (1993). No cartório indicado, todos os números batem.

Segundo o livro de registros A-239, a certidão foi conseguida graças a um despacho judicial, como a lei obrigava até 2008 em casos do tipo. “Deve ter levado testemunhas, o que tinha de documentação na época, e o juiz determinou”, diz Ourisval Filho, o oficial do cartório.

“É passível de erro, mas é bem mais provável que esteja certo”, acrescenta, em discurso semelhante ao do presidente da Associação dos Notários e Registradores do Brasil, Rogério Bacellar. “Para garantir, só com exames. Mas ter uma pessoa com 118 anos é uma glória ao país”.

Então dona do recorde no Guinness, a americana Besse Cooper havia herdado o posto de uma brasileira, a mineira Maria Valentim, que viveu até junho de 2011 e tinha 48 dias a mais. Procurada pela reportagem, a entidade disse que a iniciativa de ter o título deve partir do interessado.

A direção da Asgap (Associação Solidariedade Grupo de Apoio ao Paciente Portador de Câncer), onde Eurides mora há 15 anos, diz ser contra uma “superexposição”.

Vovó foi deixada pela família quando teve câncer de colo de útero. Curada, passa as noites de Natal com o sobrinho, em Candeias, região metropolitana. Nunca conheceu o pai, não se casou e não tem filhos –um morreu na gestação. Cresceu com a mãe, sem brechas para “dançar e namorar”, segundo lembra.

Diz ter conhecido Maria Bonita e Lampião, nascido quatro anos depois. “Moreno, de chapéu, fazia sucesso lá. Assustava toda a freguesia. Uma agonia… Deus me perdoe.”

Com 1,41 m de altura e 34 quilos, tem diabetes e pressão alta. O prontuário no Hospital Santa Izabel ainda aponta para recentes infecções respiratórias. Consegue andar sozinha, porém passa a maior parte do tempo deitada.

É proibida de comer batata. “Dá dor no estômago”, reclama. Alimenta-se até seis vezes por dia. A predileção por carne assada com farinha seca foi substituída por peixe. Não gosta de novela. Prefere ver jornal. Ex-dona de casa, sente saudade de quando “varria, lavava prato, cozinhava e forrava as camas”.

O segredo da longevidade? “Não ficar pensando nisso”.

Papo encerrado, chama o repórter para um aviso. “Ei, meu neto, por que não veio ao meu aniversário [semana passada]? Foi tão bonito… Venha para o próximo, viu?”.

 

 

 

 

Fonte: Folha

 

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