Anvisa anuncia que revisará referências científicas de corante vermelho após proibição nos EUA

Anvisa anuncia que revisará referências científicas de corante vermelho após proibição nos EUA
Anvisa anuncia que revisará referências científicas de corante vermelho após proibição nos EUA. Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que revisará as referências científicas utilizadas para autorizar o aditivo, com possível reavaliação da permissão da substância no Brasil. A decisão vem após a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos, proibir o corante vermelho n.3 –a eritrosina, usada em cerejas, balas, doces, sorvetes e bebidas adoçadas– nos países.

Segundo matéria do Folha de São Paulo, a ação da agência americana ocorreu em resposta a uma petição feita em novembro de 2022 a partir de estudos que indicam incidência de câncer em ratos machos expostos ao corante. Nos EUA, evidências de risco à saúde em animais já são suficientes para embasar a proibição de determinadas substâncias, mesmo que não existam evidências de impactos semelhantes em humanos. Segundo a decisão da FDA, é o caso do corante vermelho n. 3.

“Embora a FDA não mencione a existências de novas evidências e que as evidências conhecidas não levantem preocupação de segurança para consumo humano, a Anvisa estudará as referências científicas da petição apresentada à autoridade americana, motivadora da ação, verificando a existência de justificativa para uma reavaliação”, diz a nota da Agência.

O câncer, porém, não é o único problema de saúde associado ao uso dos corantes. Segundo Daniela Canella, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo (USP), uma série de evidências científicas apontam para uma associação dos corantes com hipersensibilidade –ou seja, reações alérgicas– e distúrbios de comportamento, como ansiedade e problemas de memória.

O fato do estudo que proibiu o corante vermelho n.3 dos EUA ser embasado em testes de animais não é um problema para a pesquisadora. “Se você tem pistas que o negócio faz mal, seria antiético dar doses para pessoas e ver até onde elas aguentam.” Para ela, a raiz do problema é que a indústria alimentícia se utiliza dessa falta de estudos para justificar a manutenção do uso desses ingredientes.

O dióxido de titânio, corante que dá coloração esbranquiçada, já está proibido na União Europeia e se deu a partir do princípio da mesma precaução. No Brasil, a Anvisa manteve a permissão para o uso do aditivo no fim do ano passado. “Nos Estados Unidos e mesmo no Brasil a gente faz o contrário [da União Europeia]. Se não tem evidência que mata, pode manter”, diz Canella.

Para Cecília Cury, doutora em direito e idealizadora da organização Põe no Rótulo, a proibição da FDA abre um precedente importante para que a Anvisa reavalie a segurança dos aditivos. Ela afirma que, além da proibição, uma alternativa para lidar com tais ingredientes seria a mudança na rotulagem.

Diferentemente dos demais ingredientes de um produto, que são listados em ordem decrescente, os aditivos são listados sempre ao final. “A gente não faz a menor ideia de quanto aditivo vai num pão de forma”, diz Cury, que argumenta que a inclusão de aditivos na mesma norma dos demais ingredientes seria um passo importante rumo à transparência.

Fonte: Bahia.ba

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