Aniversário

Aniversário

Dia 8 de fevereiro faço sessenta e cinco anos, mas fisicamente sinto como se tivesse quarenta e cinco anos, o que mudou? Muitos cabelos embranqueceram e outros caíram, comecei a usar óculos para ler, de cabeça estou bem, e continuo trabalhando, caminho muito que faz bem e enquanto caminho penso, penso principalmente relembrado o que já aconteceu para comparar com o que está acontecendo, para tentar imaginar o que pode acontecer.

Há tempos, folheando livros ao acaso, abri “O Caminho de Swann”, de Marcel Proust; bem no trecho em que o personagem mergulha no chá uma madeleide um bolinho amanteigado, em forma de concha. Ao levar a boca um gole com migalhas do confeito, o narrador recua a infância e isso dispara o processo de pensamento que compõe os sete volumes de “Em busca do tempo perdido” um dos poucos monumentos indiscutíveis da humanidade.

Neste aniversário gostaria de ter uma madeleide, para mordiscar e esperar que o bolinho desencadei em mim um fluxo de memória como o que assombrou “Proust”.

Mas vamos dar uma olhada mais atrás para recuar um pouco no tempo. Aos vinte e seis anos fiz uma viagem solitária a Europa, significava tantas coisas para mim o inacessível naquele momento, que marcou minha juventude. Trabalhava em Irecê onde só existia luta pela sobrevivência e cair de repente no centro cultural do mundo foi marcante para um jovem que gostava tanto de literatura, e tinha já o sonho de conhecer o “Quartier Latin” bairro em Paris com livrarias famosas cenário para Hemingway no filme “Paris é uma festa”.

Além de Honor de Balzac com “Ilusões Perdidas”. Hoje vivemos o que é passageiro naquele tempo também mais muito mais lentamente. Desta viagem que passei por Paris, Madrid, Amesterdã, Roma, Lisboa, Londres Lucerna a Riviera Francesa, no reluzir da consciência desfrutava de mim mesmo. Aprender, de maneira terrena, com esta civilização tão antiga, no decurso destes dias cada hora tinha sua determinação e qualidade particular. Olhos que veem com admiração o passado que não passa e que volta para significar o existir.Existe no fundo de cada um de nós, é certo um sentimento de entender a história e, o velho mundo para que sua alma se alargue se encha de sensações e ideias.

Não vejo o filme de minha vida em ritmo acelerado mas a saudade é o que faz as coisas boas pararem no tempo e sei que o tempo continuará a passa e descobro que grandes mesmo são os sonhos realizados.

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