Uma vez há muito tempo vi na rua um homem com seu animal de estimação puxado pela coleira. Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era. Tinha focinho acompridado de quem pode beber fundo, rabo curto, mas duro. Até que o homem passou perto de mim. Sem um sorriso, altivamente se expondo; não, nunca foi fácil ser julgado pela fila humana que exigia mais e mais. Fingia prescindir de administração ou piedade. Mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo um sonho. – Que bicho é esse? – perguntei-lhe. Respondeu é um porco. O homem sem parar respondeu curto embora sem aspereza. Fiquei olhando. Era um porco que se pensava cachorro. Às vezes com seus gestos de cachorro retinha o passo para cheirar coisas – o que retesava a correia e retinha um pouco o dono na usual sincronização do homem e cachorro. Fiquei olhando aquele porco que não sabia quem era. O mundo é sempre muito criativo. O mundo não se conhece a si próprio. Tudo que eu achei que soubesse de animal de estimação, de repente flutuou para longe de mim como um balão que a gente solta sem querer.
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