Segundo explicou a instituição, a suspensão da matrícula é referente ao semestre 2020.3. Danilo Araújo de Góis foi denunciado por uma professora, no ano passado, após ele se recusar pegar prova da mão dela.
Danilo Araújo de Góis, o estudante de Ciências Sociais denunciado por racismo dentro do campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) teve a matrícula suspensa e está proibido de frequentar as instalações do Centro de Artes,
Humanidades e Letras (CAHL), onde ocorreu o caso. A informação foi confirmada pela instituição nesta terça-feira, dia 10.
O documento foi assinado pelo reitor da universidade em setembro. De acordo com a URFB, a decisão levou em consideração a impossibilidade da conclusão do inquérito administrativo que apura o caso de racismo, por causa da suspensão das atividades presenciais com a pandemia da covid-19.
A portaria expedida determina que o estudante “abstenha-se de participar de quaisquer das atividades presenciais ou não presenciais (remotas ou online), bem como de comparecer às dependências e aos espaços físicos do CAHL e das Residências Universitárias.
Além disso, a portaria também determina a “suspensão da matrícula do referido estudante no Semestre Acadêmico Suplementar (2020.3), até que seja legalmente possível a conclusão do referido inquérito administrativo”.
Em dezembro do ano passado, ele já tinha sido proibido de entrar no CAHL. Na ocasião, foi expedida uma medida cautelar visando o afastamento preventivo do estudante das dependências físicas do CAHL.
Ele também foi suspenso da residência universitária localizada na cidade de São Félix, vizinha a Cachoeira. Dias antes, um estudante tentou invadir o quarto que Danilo dormia com um pedaço de pau na mão.
Caso
A professora da UFRB Isabel Cristina Ferreira dos Reis denunciou à Polícia Civil que sofreu racismo durante a aplicação de provas dentro do campus da instituição na cidade de Cachoeira no dia 9 de dezembro de 2019. O caso é investigado. A docente entrou com um ação no Ministério Público da Bahia (MP-BA).
A ação foi gravada por estudantes que estavam dentro da sala de aula. As imagens mostram Danilo Araújo de Góis se recusando a pegar a prova na mão da professora e pedindo que ela colocasse o exame em cima da mesa para que ele pudesse pegar.
O vídeo ainda mostra que a coordenadora do curso fala para a professora que é um direito dela continuar na sala sem o aluno. “A senhora, professora, se sente confortável em condições de prosseguir a avaliação com o estudante na sala? Porque é seu direito [que ele saia da sala]”.
A professora do curso de Licenciatura em História revelou ainda que os estudantes já tinham contado que ele não gostava de encostar em pessoas negras e homossexuais e que, além disso, ele se recusava a pegar qualquer coisa na mão de pessoas negras.
Segundo a UFRB, Danilo tentou entrar na universidade através de cotas raciais. O pedido do estudante foi feito durante o vestibular de 2018, mas acabou indeferido.
Investigação
Danilo foi ouvido pela Polícia Civil na manhã do dia 12 de dezembro de 2019, na Central de Flagrantes, em Salvador. Conforme o delegado João Mateus, que investiga o caso, o suspeito negou racismo e disse que não pegou a prova da mão da professora por “questão de energia”.
Ainda segundo o delegado, Danilo Góis disse que não falou nada ofensivo para a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis e em relação a cor de pele dela. O estudante contou que passou por uma situação parecida uma semana antes e que o caso não foi considerado racismo porque a professora não era negra.
Ainda de acordo com o delegado João Mateus, Danilo Góis contou que não conseguiu se explicar para a coordenadora da UFRB, porque os alunos começaram a gritar e chamar ele de racista.
Uma comissão para apurar as denúncias encaminhadas por estudantes e professores do Centro de Artes que informaram ter presenciado outras manifestações de preconceito racial, de gênero e de homofobia por parte do estudante.
Fonte: G1