Múltiplas possibilidades oferecidas pelo exame são uma forma de garantir o acesso de mais pessoas à educação
Quando se inscreve para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o candidato sabe que tem pela frente meses de estudo para responder, da melhor forma possível, 180 questões, e redigir uma redação em dois dias de prova.
Mas, na realidade, as possibilidades que o exame abre aos candidatos ainda estão por vir. E elas são muitas: com as notas nas mãos, o estudante tem como opções desde adquirir o certificado do ensino médio ou entrar em uma faculdade até ir para um intercâmbio no exterior, pago pelo governo.
Segundo Márcia Kalid, diretora do curso e colégio Oficina, as múltiplas possibilidades oferecidas pelo exame são uma forma de garantir o acesso de mais pessoas à educação.
“Hoje, ninguém fica sem fazer Enem porque ele abre possibilidade para várias outras coisas além de uma vaga no ensino superior”, comenta a diretora, destacando que o exame ajuda a democratizar o acesso. “Com ele, qualquer um que tenha feito uma boa pontuação pode ingressar em diversas modalidades de ensino”, reitera.
Passaporte
Para a estudante Tatiana Scher, 17 anos, o bom desempenho no Enem representa, literalmente, um passaporte. Além de possibilitar seu ingresso no curso de Arquitetura, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), já pensa em garantir uma vaga no Ciências sem Fronteiras (CSF), programa do governo federal que financia o intercâmbio de alunos brasileiros no exterior.
Tatiana já tem em mente até o destino do intercâmbio: Espanha. “Quero muito fazer o Ciência sem Fronteiras porque quando você viaja, amplia seu horizonte. Para mim, vai ser muito importante porque vou poder ter contato com a Arquitetura e com a cultura de outro povo”, contou ela, que cursa o 3º ano em uma escola particular de Salvador.
Assim como Tatiana, a estudante Amanda Chiacchio, 18, também pretende usar a nota do Enem para conseguir entrar na Ufba e participar do CsF. Por isso, tem estudado oito horas por dia para obter uma pontuação que possibilite sua entrada no disputado curso de Medicina e, claro, no CsF, já que o candidato precisa ter nota mínima de 600 pontos para pleitear uma vaga no intercâmbio. “Tenho estudado muito. Medicina é muito concorrido e o CsF também”, destacou Amanda, que sonha em passar uma temporada de estudos na Inglaterra.
Projetos
No caso de Maria Aparecida Fernandes, 55 anos, fazer o Enem foi uma maneira de ascender na sua carreira. Ela sempre trabalhou no setor administrativo de empresas e prestou o exame pela primeira vez em 2005, para ingressar na graduação de Administração. Com a nota obtida, conseguiu uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) em uma universidade particular de Salvador. Depois da formatura, ela conta que encontrou dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, por conta da idade.
Foi quando resolveu, em 2013, usar o Enem novamente, só que dessa vez para ingressar em um curso técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
“A colocação no mercado para mim, que tenho mais de 50 anos, é muito difícil. Então, como queria botar um negócio e já trabalhava com o artesanato, resolvi entrar no curso técnico de modelagem de vestuário, que acrescentou muito a minha vida”, comenta Aparecida, que agora tem como projeto virar chefe de si mesma: pretende montar uma confecção de roupas para o público infantil. O estudante Hugo Nascimento, 22, prestou Enem em 2011 já pensando no Prouni.
“Tentar uma faculdade pública não era uma opção por conta das greves. Como eu não tinha como arcar com a mensalidade de uma faculdade particular, tentei o Prouni e fui aprovado”, relembra o rapaz. Hoje, Hugo já está cursando o sétimo semestre de Engenharia Civil na Universidade Salvador (Unifacs). Ele foi contemplado com bolsa de 100% de gratuidade obtida através do programa.
Nota pode ser utilizada para estudar em Portugal
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza o Enem, formalizou, no dia 10 deste mês, um acordo com mais uma instituição estrangeira que beneficia os estudantes que fizeram o Enem. O Instituto Politécnico da cidade de Beja (IPBeja), na região do Alentejo, sul de Portugal, já pode receber alunos que fizeram o exame no Brasil.
No IPBeja, há cursos como viticultura (ciência que estuda a produção da uva), enologia (estudo da produção e conservação dos vinhos), olivicultura (estudo da produção do cultivo das oliveiras), além de agropecuária mediterrânea.
Os candidatos brasileiros podem se candidatar a uma das 95 vagas internacionais no instituto português. As inscrições começam em outubro e irão custar 50 euros (R$ 177,22). A nota mínima deverá ser definida até o final deste mês.
Os selecionados irão pagar, por ano, 1.100 euros e podem concorrer a desconto na hospedagem residencial do campus, que custa até 150 euros mensalmente. A instituição tem como parceiras de ensino a distância outras 150 entidades europeias e intercâmbio de até 6 meses com universidades de países da União Europeia.
A IPBeja é a terceira instituição fora do país a utilizar a nota do Enem para seleção de estudantes. Já existe uma parceria no Inep com outras três universidades portuguesas – em Beira Interior, Coimbra e Algarve. Para ingressar nessas instituições, o candidato deve ter feito Enem a partir de 2012.
Meditação e atividade física antes da prova reduzem a ansiedade
Na hora de fazer a prova, é normal que o candidato se sinta ansioso. Segundo a professora de Psicologia da Uneb Iris de Sá, essa ansiedade está relacionada à pressão que o estudante vive antes do exame.
“Às vezes, tem a ver com o grau de conhecimento que ele tem, mas, na maioria das vezes, é o estresse”, explica a psicopedagoga, que indica um trabalho de respiração e meditação, além de alguma atividade física, às vésperas da prova. “Claro que, normalmente, os adolescentes não têm a cultura de meditação, mas se puder colocar uma música relaxante, controlar a respiração durante os estudos, ajuda muito”, diz.
Outra estratégia para controlar a ansiedade é organizar os estudos de forma a deixar livre, pelo menos, um dia antes da prova sem tocar nos livros. “É preciso ter algumas horas de relaxamento, dormir e se alimentar bem, fazer alguma coisa que goste”, recomenda Iris de Sá.
Clarissa Pacheco e Yne Manuella/Correio