“Antes, santifiquem Cristo como Senhor no coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.” (1 Pedro 3.15)
Para vivermos além das aparências, precisamos superar um sério problema: nossas mentiras sobre nós mesmos.
“Conhece-te a ti mesmo”. Este é o mais conhecido aforismo grego. Ele antecede em séculos o nascimento de Cristo e ainda precisamos dar-lhe atenção. Jesus encontrou muitas pessoas cegas sobre si mesmas, pessoas que se recusavam a ver a verdade sobre a própria vida. Ele as confrontou.
Os fariseus, por exemplo, estavam sempre preocupados com as coisas exteriores e por isso certa vez criticaram Jesus por permitir que os discípulos comessem sem lavar as mãos. Jesus os repreendeu chamando a atenção para o interior, para a necessidade de cuidarem, conhecerem o que os habitava (Mt 15.11-18).
Aos homens que levaram uma mulher que disseram ter sido apanhada em adultério e a quem pretendiam condenar, Jesus disse: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8.1-11). Jesus acendeu a luz da verdade a respeito deles. Ele sempre faz isso, ainda hoje.
Pedro, iludido consigo mesmo, disse a Jesus que estava pronto a morrer por Ele. Jesus lhe disse: “Asseguro-te que ainda esta noite, antes que o galo cante, três vezes você vai me negar.” (Mt 26.34).
Deve ter sido desconcertante para Pedro. Será que acreditou em Jesus? E essa ilusão não era somente de Pedro. Todos os demais pensavam a mesma coisa. Mateus registra que Pedro insistiu: “Mesmo que seja preciso que eu morra contigo, nunca te negarei. E todos os outros discípulos disseram a mesma coisa.” (Mt 26.35).
Toda aquela confiança era pura ilusão sobre si mesmos. A verdade sobre eles estava nas palavras de Jesus a Pedro. Nós somos como eles. Carregamos muitas ilusões sobre nós e julgamos severamente os outros a partir das mentiras que acreditamos sobre nós. Mentiras alimentam ódios. A verdade coopera com o amor. Temos medo de admitir as feiuras que nos habitam. Temos medo também de ser os pecadores que somos. Temos também medo de assumir as verdades que colocariam em risco a imagem que os outros têm de nós.
O pior medo que temos é o de ser o que pensamos que Deus reprovaria. Ignoramos que Ele nos conhece, nos ama e sabe lidar com quem somos e com o que somos, por pior que sejamos. Não devemos temer a verdade sobre nós, pois é por ela que conheceremos a liberdade e experimentaremos a libertação.
Para que Cristo seja santificado em nosso coração, para vivermos além das aparências, precisamos aprender o caminho para dentro de nós, para a verdade sobre nós mesmos. Precisamos ser realistas sobre nós, tanto como fruto de nossa coragem em admitir e em reconhecer, quanto como resultado da revelação de Deus sobre nós.
Devemos orar com o salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações.” (Sl 139.23). Devemos ouvir as pessoas. Elas podem se enganar sobre nós, mas também podem ver em nós o que nós mesmos não vemos. Precisamos avaliar os nossos atos, nossas atitudes. Precisamos lixar os calos de nossa consciência gerados pelo hábito de justificar o tempo todos as nossas atitudes.
Temos todos as boas razões para fazer o que fazemos, inclusive coisas más. Se queremos viver o Evangelho para além das aparências, este é um bom começo: buscar a verdade sobre nós mesmos e ter a coragem de sermos quem somos. Esse é o ponto de encontro indispensável para que Cristo seja santificado em nosso coração. A vida de aparências é mais comum do que pensamos. Se estamos nela, que acordemos.