“Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta.” (Filemom 1.18)
Como olhamos uns para os outros? Numa sociedade em que tanto ouvimos falar de enganadores, em que normalmente desconfiamos dos homens públicos, em que a violência nos deixa sobressaltados e usar cadeados, físicos ou lógicos, tornaram-se o padrão, os relacionamentos acabam sofrendo. Tem diminuído a disposição em acolher e ajudar. Até há quem esteja disposto a dar dinheiro, mas poucos querem dar de seu tempo e presença. Onésimo era um escravo em fuga. Estava num momento limite em sua vida. Havia chegado até Roma, mas como seria seu futuro? Para onde ir? Continuar fugindo ou se entregar? Ele procurou por Paulo, que estava em prisão domiciliar. Por que o procurou?
Além do fato de bem possivelmente já o conhecer, também pelo fato de que o reconhecia como alguém confiável. Alguém em quem poderia encontrar orientação. E acabou encontrando mais. Encontrou o Caminho. Paulo amou Onésimo assim como foi amado por Cristo. Paulo o socorreu, assim como foi socorrido por Cristo. Paulo o confrontou, assim como foi confrontado por Cristo. O resultado foi um novo Onésimo, que agora poderia fazer verdadeiro o significado do próprio nome: útil, valioso! Livros podem nos inspirar, ideias podem nos motivar, mas são pessoas que nos levam a transformação e marcam para sempre nossa vida. Uns aos outros – é nessa via que transita a graça e o amor de Deus.
Agora Onésimo já sabia o que fazer, e não era fácil o caminho: precisava voltar. Acho pouco provável que ele tenha pedido uma carta a Paulo. Creio que isso veio do apóstolo. Ele foi a expressão da graça de Deus sobre a vida de Onésimo até o ultimo recurso e possibilidade. E então escreveu a carta e nela colocou-se como fiador de seu irmão e foi o pacificador entre Onésimo e seu senhor, Filemom. Pacificadores que são chamados filhos de Deus (Mt 5.9). A história que foi escrita entre Paulo, Onésimo e Filemom é a ilustração da vocação da igreja e de cada cristão: ser agente de transformação e reconciliação. Como orou São Francisco de Assis: “Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz.” Amém!