Acusações e fundamentos

Ramiro GuedesA bola da vez das denúncias da oposição ao governo Dilma Roussef é o ministro da casa Civil, Antônio Palocci. Acusado de, em quatro anos, aumentar seu patrimônio em 20 vezes, Palocci alega que ganhou a dinheirama em consultorias a empresas privadas. Pode até ser, mas seria bom que o ministro explicasse esse ganho com mais detalhes, justamente para acalmar as hienas. E por falar em hienas, seria bom apurar a fortuna dos Magalhães (Grampinho está á frente das acusações), dos Maias (Agripino tem muito a explicar) e várias outras agora vestais da oposição. Investigar Palocci é certo. O que se pede é que seja investigado o resto da súcia política.

A VERDADEIRA BADERNA

O termo baderna, ensina o Guia dos Curiosos, curioso opúsculo do jornalista Marcelo Duarte, surgiu por causa da bailarina Marietta Baderna, que deixava seus fãs eufóricos por suas práticas, digamos, libertárias. Baderna é, pois, uma coisa lhufante, alegre, fervente de energia. Muitos só trazem para essa palavra um sentido: bagunça, confusão. Não precisa ser e não deveria ser. Como não deveriam ser amorfas e acabadas certas administrações municipais, caquéticas antes do fim, paralisadas pelas ações de puxa-sacos e mal informantes, dirigidas por príncipes absolutistas que só ouvem quem parte para o feio hábito da bajulação e do puxa-saquismo. Ah, segundo o mesmo manual, a expressão puxa-saco surgiu porque nas expedições os membros das tropas carregavam os sacos de seus superiores.

Igualzinho nas tais administrações de hoje.

SEPARATISTAS

O jornal A TARDE, em sua edição de 18 de maio, traz, em manchete de primeira página: “Separatistas fazem projeto para dividir a Bahia em dois estados.” O projeto é do deputado Oziel Oliveira (PDT), ex-prefeito de Luiz Eduardo Magalhães e tem apoio de vários políticos. Alega o deputado que a região Oeste da Bahia precisa de vida autônoma, pois fica a mais de 1000kms de Salvador e se acha praticamente abandonada pelos governos estaduais. O novo estado teria 173 mil quilômetros quadrados, um PIB de 10 bilhões e 31 municípios. Se não for apenas para criar mais um cabidário de empregos, pode ser uma boa idéia.

O perigo é o cabidário.

PRISÃO DO DIRETOR DO FMI

A gente se peja de nostalgia e vergonha quando assiste, em rede mundial, a prisão algemada do chefão do FMI Dominique Strauss-Kahn. (Ele já saiu da prisão carcerária, está em prisão domiciliar. Para isso, teve que pagar 5 milhões de dólares). Vai ficar detido até que prove sua inocência da acusação de agressão e tentativa de estupro de uma camareira do hotel onde se hospedava. Aqui no Brasil, Daniel Dantas conseguiu, mesmo depois de tentar subornar um policial federal, ser liberado duas vezes por liminar deferida pelo então presidente do STF, Gilmar Mendes. Livrou-se da cadeia o túrgido Daniel e, até hoje, passeia sua impunidade frente aos atônitos olhos brasileiros. Enquanto isso, ladrões de galinha e uma senhora que furtou um frango no supermercado gramam suas misérias em nossa saudáveis prisões. Daniel Dantas foi didático quando afirmou: “só temo a primeira instância. Lá em cima, eu me livro.”

Brazil, zil, zil.

E POR FALAR EM GILMAR

Não, meu caro Alberto Galeguinho, não estamos aqui palrando sobre o glorioso e eterno goleiro do Santos F.C. O personagem aqui é menor:trata-se do ex-presidente do STF, Gilmar Dantas. Pois um advogado capixaba pediu o impeachment de Mendes, afirmando, em sua petição, que o ex-presidente do STF teria descumprido a legislação que comanda o comportamento funcional de juízes. Gilmar Mendes é amigo particular do advogado Sérgio Bermudes e julga causas de interesse do escritório desse advogado. No escritório de Bermudes, trabalha a mulher de Gilmar Mendes, com salário acima dos pagos no mercado. Quando Gilmar saiu da presidência do STF, ganhou de Bermudes uma viagem à Buenos Aires, presente estendido à mulher de Mendes e com acompanhamento do advogado na viagem.

Claro: é muito difícil que tal representação redunde em punição.

UMA DISCUSSÃO EM LUGAR INDEVIDO

Esse pundonoroso escriba se reserva ao insigne direito de ser extremamente seletivo no que lê ou no que assiste no cinema ou televisão. É claro que essa seletividade é pessoal e subjetiva e não é excludente, respeitando o gosto ou mau gosto de quem quer que seja. Mas, nas nossas assistências culturais, em momento algum entra o tal “Domingão do Faustão”. No domingo, dia 22, estávamos em decúbito lacrimal, depois de o Cruzeiro ser derrotado pelo Figueirense, quando D. Mariza zapeou para a Globo. Lá estava o inefável Faustão. Bravo, o apresentador entrevistava uma professora do Nordeste, que, justamente, verberava a situação das escolas brasileiras. Quando Faustão deixava, ela falava. Mas, quem realmente falava era o Faustão. Indignado, bradava: “um país que não tem rodoviária, aeroportos e educação não pode fazer Copa do Mundo. Gastar mais de dois bilhões com a Copa, enquanto vivemos a situação que está aí, é brincadeira. Falo isso, e se alguém da casa não concordar, que me mande embora.” Falou e passou pro “Se vira nos 30”. A quem Fausto Silva quer enganar? Por que misturar Copa do Mundo com a questão da Educação? Por que não deixar a professorinha falar, ela, sim, com legitimidade e conhecimento de causa para dissertar sobre os sofrimentos da educação? Será que Faustão acha que o povo não sabe que a raiva dele contra a Copa é porque a Globo não vai ter mais exclusividade na transmissão? Será que ele pensa que o desabafo do “me mande embora” foi engolido por nossa gente? Tudo bem combinadinho com a alta cúpula global para dar verniz de credibilidade à fala faustiana.

“Tão pensando que mãe Dete é menina…” (Obrigado, D. Genólia).

E A POLÍTICA?

Prosseguem as démarches e boatos sobre possíveis candidaturas em Porto Seguro. Há quem diga que a candidatura de Roberta Caires refluiu e que a bola da vez de Ubaldino seria Lúcio. Pelo menos por enquanto, não procede. Ubaldino continua apostando no nome de Roberta, entendendo que é dela o melhor perfil para uma campanha vitoriosa. Enquanto isso, a indústria da fofoca prossegue, levantando as mais estranhas histórias sobre o futuro político do grupo Pinto. É preciso esperar para que o tempo mostre sua razão.

Elementa, meu caro Watson.

POEMA NOVO DE CYNARA NOVAES

Árido

Tudo era simples e frágil e eu sabia…

Tudo era doce e o sal não existia

Até que a noite entrou pela porta

quando ainda era hora do dia

Uma aridez sem fim, então, se apresentou

e sem pedir licença habitou em mim

A memória aos poucos se perdeu,

os olhos desconheceram a luz,

a palavra afastou-se da voz…

Vivo agora o inverno

como se outra estação não houvesse

Ouço chamados, mas, não tenho respostas.

Perante a escuridão e a ausência de afetos

cubro-me com retalhos do passado e durmo sobre mim.

 

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