“Com a minha voz clamei ao Senhor; com a minha voz supliquei ao Senhor.” (Salmos 142.1)
Oscar Wilde disse que “Pouca sinceridade é uma coisa perigosa e muita sinceridade é absolutamente fatal.” Qual seria a medida certa para a sinceridade? Em se tratando de nossas relações humanas essa é uma preocupação altamente relevante. Somos uma ameaça uns para os outros com nossa incapacidade de lidar uns com os outros. E isso é um inibidor para a sinceridade e um promotor de nossa hipocrisia. Mas, em se tratando de Deus, tudo é diferente. Pouca sinceridade é uma grande bobagem, muita sinceridade, o mínimo necessário. E completa sinceridade, uma fonte de vida.
Se nas relações humanas uma sinceridade comedida e sábia é recomendável, na relação com Deus somos chamados a ser completamente nós mesmos, ainda que estejamos enganados sobre isso. Ele, que já sabe quem de fato somos, nos ajudará a nos conhecer de fato. O pecado nos fez hipócritas, seres ocultos de nós mesmos, ignorantes quanto à própria vida. Ninguém está livre do engano de falar mentiras a respeito de si mesmo. Fernando Pessoa escreveu um poema magistral sobre isso em que disse: “Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.” Esse tipo de consciência é tanto uma necessidade quanto uma benção.
O verso de hoje diz que salmista clamou a Deus com sua própria voz, falou com a alma, com sinceridade. Precisamos abandonar superficialidades com Deus e orar com nossa própria voz. Em oração é errado ser politicamente correto. É impossível enganar a Deus, por isso a oração hipócrita é um autoengano. Somos fracos e dúbios. Mas o que importa mesmo é quem Deus é. Dietrich Bonhoeffer, consciente disso agarrou-se a Deus: “Seja quem for eu, tu sabes, Senhor, que sou teu”. É o que devemos fazer! Podemos ser sinceros com Deus, podemos em Deus a clareza sobre quem somos. Talvez um dia saibamos o quanto isso é precioso e necessário. Não se perca em si mesmo. Encontre-se em Deus.