A tal audiência pública

Pois aconteceu mais uma audiência pública sobre a implantação da Universidade Federal do Sul da Bahia. Foi no Kaikan, em Teixeira de Freitas, e atraiu uma multidão para lá, mercê do lobby feito por partidos políticos, no caso a turma timotista e os petistas joãobosquianos. Esse escriba esteve lá das 14:30 até 17h. Até esse momento, pouco de concreto se havia discutido sobre a implantação: apenas ouviam-se discursos inflamados dos deputados. Minto: foi muito boa a fala do professor Bessa, diretor da UNEB local e que representou a comissão aqui formada para acompanhar a implantação. A comissão está trabalhando bem. Como o deputado Zé Raimundo, do PT, que presidiu a Audiência, de cara falou que os deputados tomariam avião para Salvador às 17 horas, a AP se limitou aos discursos. O que se falou da implantação da Universidade Federal foi muito pouco e foi mais uma colocação de intenções que os deputados têm sobre o assunto. Propostas concretas foram raríssimas. O evento foi tido como uma manifestação de força do deputado Temóteo Brito frente ao governo do Estado.

Então, para que se falar em audiência pública?

SERÁ QUE CONSEGUIU?

Depois da Audiência Pública, vieram as análises dos cientistas políticos da região. Um deles disse que Temóteo conseguiu atingir o que pretendia, pois trazendo os deputados, mostrou que faz parte realmente da base aliada e que tem o apoio do governador: “Demonstrou força política, que é o que ele queria.” Mas no discurso que fez, Temóteo negou querer transformar a audiência em demonstração de força e até negou ser o “pai da criança”, no caso a Universidade Federal do Sul da Bahia. Falou e disse: “As forças políticas do Extremo Sul conseguiram essa vitória”.

Estamos tendo aí um caso clássico de discurso aparente sem o discurso real: foi usado um fato nobre (a discussão da Universidade) para encobrir uma questão menor (manifestação partidária).

Como sempre, aliás.

DE RESPOSTAS SEM PERGUNTAS

Tem gente bocuda dizendo por aí que a permanência de um prefeito de uma grande cidade do Extremo Sul no cargo ficou por R$ 400.000,00. O preço está menor que o previsto, pois falava-se em 500. Quem vai pagar? Os mesmos bocudos afirmam que a grana saiu de um rateio entre empresários interessados e que depois, ciganamente, tais empresários vão querer receber la plata com juros e correções.

Tradução: se houver pagamento e se os fatos boqueijados forem verdadeiros, quem vai pagar é o povo.

É VERDADEIRA A VIOLÊNCIA QUE OS JORNAIS CONTAM?

Esse escriba esteve em conversa com uma alta autoridade de segurança da região. Como a conversa era particular e não pedi licença para divulgá-la, não nominarei a pessoa com a qual conversava, mas era uma autoridade maior, de alto coturno. Dizia-me a autoridade que não havia em Teixeira a violência que a imprensa dizia haver, que havia muito exagero, muita publicidade em torno do mal. Fiz ver a ele que essa discussão é velha em Teixeira: as autoridades negam a violência e criticam a imprensa. No entanto, a imprensa não inventa os assassinatos, roubos, furtos, crimes de mando e outras diárias tragédias que vitimam o cidadão. Pode privilegiar as informações nefastas, mas não as inventam. Foi aí que descobrimos o x da questão. O interlocutor disse que a culpa não era da polícia, que não podia prever tudo. No caso do empresário assassinado e que teve o corpo queimado, a polícia não podia prever. Quer dizer: a questão não é a violência, é que a polícia não é culpada por ela. Ora, a questão assim fica muito simplificada. É claro que ninguém culpa polícia pela violência, a não ser da violência que ela mesma patrocina, quando patrocina. A violência é um ovo da serpente gestada pela própria sociedade e pela ausência de políticas públicas e sociais dos governos. A Polícia tem culpa quando se reveste de violenta, quando não assume seu papel preventivo, quando tem efetivos diminutos, quando prepara mal seus soldados, quando não tem viaturas suficientes para patrulhar a cidade (caso de Teixeira de Freitas). Essa culpa não é nem dos policiais e do efetivo local, mas da falta de estrutura, estrutura mínima negada pelo Estado à própria polícia. As culpas da polícia são pontuais e esporádicas. O discurso da pouca violência, proferido por algumas autoridades, será perigoso na medida em que essas autoridades, defrontadas com essa falsa premissa (afinal, qualquer ato de violência é violência), afrouxem na prevenção e na punição dos atos criminosos.

O perigo é esse.

 

BELEZA TOTAL

Sem tirar nem por, uma obra prima a interpretação de Ne me quittes pas por Selma Reis. A cantora brasileira, de timbre fortíssimo, percorre cada palavra e cada sílaba musical em toda a extensão. A canção imortal fica mais imortal ainda.

De chorar.

ARMORIAL

O Quinteto Armorial é uma coisa linda. Toca obras primas da música erudita pernambucana com uma roupagem brasileira e nordestina que renova a fé que possamos ter em nossos artistas. Faz parte do Projeto Armorial, desenvolvido em Pernambuco por Ariano Suassuna e outros apóstolos da redenção cultural desse país.

Sábado vai ter Armorial no Almoço à Brasileira.

TRINCANDO AOS DESAFETOS

As frases abaixo são endereçadas a dois calhordas que conspurcam o ar dessa cidade:

“Algumas pessoas são vivas apenas porque é ilegal matá-las.” (Anônimo)

“O Diabo é um otimista se ele pensa que pode fazer as pessoas piores.” (Karl Kraus)

“Um tolo sempre acha um mais tolo para admirá-lo.” (Boileau)

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