Não foi sempre assim. As pessoas não sentiam tamanho apreço por suas próprias opiniões, antes das redes sociais. No máximo, havia uma militância de mesa de bar, as opiniões evaporavam com o álcool do chope, se esfumavam na madrugada. Mas, no novo mundo, as opiniões passam a ser registradas. Você imortaliza o que pensa numa rede social. E, depois dessa publicação, ainda que para grupo restrito, você não é mais dono da opinião, ela é que é sua dona.
Você terá de defendê-la contra os que a atacam, como a leoa defende o filhote. Então, não interessa mais o que é certo, interessa é vencer a discussão. Essa necessidade de vitória no debate tornou as pessoas maldosas – elas querem destruir os que identificam como oponentes. Tornou-as, também, desonestas, vale tudo pelo campeonato de quem tem razão. Um país tem que ser flexível. A capacidade de adaptação é a maior quantidade evolutiva, não há força.
Não sou, portanto, direitista nem esquerdista. Sou engenheiro, e sou um engenheiro que repudia o engenheiro ativista, o engenheiro militante, o engenheiro de salvação do mundo. Assim, me cansa quando vejo análises que partem do preconceito da crença do analista. É esse o mundo pastoso do século XXI: o mundo em que a lógica foi trocada pelo sofisma. É uma espécie de volta à Idade das Trevas.
Por que, por exemplo, o terraplanismo cresce, entre tantos outros obscurantismos menos inofensivos? Você vai responder que sempre houve ignorantes, só que não os conhecíamos. Errado. A diferença é que hoje, as ignorâncias se conectam, ligam-se por argumentos e crenças. Juntas, as ignorâncias são poderosas, impermeáveis, praticamente invencíveis, ontem na paralela à noite, em frente a um quartel, parece surreal, existiam pessoas com a bandeira do Brasil, pedindo a intervenção militar num país democrático. Eu sou um homem cansado. Preciso de férias.