“Então o Senhor perguntou a Caim: Onde está seu irmão Abel? Respondeu ele: Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?” (Gênesis 4.9)
Deus fez duas perguntas a Caim que são de fundamental importância para a vida cristã. Cristãos que não as fazem a si mesmos desviam-se da fé que deveriam observar. Hoje conversaremos sobre a primeira e amanhã, sobre a segunda. E a primeira é “Onde está seu irmão Abel?”
No encontro com Deus uma pergunta sempre surge: onde está o próximo? Nossa fé é pessoal, mas não é individualista. Ao contrário, ao sermos unidos a Deus pela graça, somos também unidos às demais pessoas. Somos comissionados a amá-las. A graça que produz comunhão com Deus nos torna parte do Corpo de Cristo e missionários do Reino de Deus. A única forma de vivermos a partir daí é em interdependência, conectados a outros que creem e comprometidos com os que ainda não creem. Inicia-se ou pelo menos deveria iniciar-se, um aprendizado de como conviver. Em nossa fé o companheirismo, a confiança mutua, a amizade são valores essenciais.
Andar com Jesus é andar com pessoas e não há opção. Não apenas as iguais a nós, mas também as diferentes. Afinal, somos diferentes de Jesus e Ele se fez nosso amigo. É de uma insanidade sem medida rejeitarmos e condenarmos pessoas negando-lhes espaço para andar conosco. Elas tem direito à mesma graça que temos. Somos todos pecadores e sem qualquer chance de atender aos critérios divinos. Fomos perdoados e amorosamente acolhidos. E devemos fazer o mesmo.
Nossa missão é amar e respeitar, mesmo as pessoas que não creem no que cremos e não se enquadram em nosso estilo de vida ou ética comportamental. Somos chamados a dar lugar a elas e a lutar por seus direitos e contra todo tipo de injustiça que as possa feri-las.
Onde está seu irmão? A pergunta feita por Deus a Caim está valendo. Escute-a! Ao andar pelas ruas da cidade e ver as pessoas, escute-as! Ao ver os desvalidos, os aparentemente loucos, os destruídos pelas drogas, os que vivem miseravelmente, ouça de novo a pergunta! Ouvi-la produz efeitos cristãos em nós!
Estaremos mais abertos a ajudar. Levaremos mais a sério as condições de vida em nossa cidade. Cobraremos mais de nossos políticos evangélicos que gostam de fazer cultos nas prefeituras, distribuir comendas e títulos, construir praças em homenagem à Bíblia e que parecem não escutar a pergunta inquietante de Deus.
Ainda que nos sentindo impotentes para fazer muito, sentiremos a dor do outro e já será um bom começo. Ainda que compreendamos não ser salutar dar algum dinheiro, olharemos com sincera misericórdia. E assim, deixaremos de tratar pessoas como coisas. Seremos mais sensíveis. Seremos mais humanos. E haverá mais chances de que Jesus uma vez mais se encarne em nossa carne e realize algo de valor eterno.