“Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.” (Lucas 18.13)
Orar certamente é o exercício espiritual mais difundido e praticado no mundo. Todo cristão ora, ainda que uma oração por dia e do tipo que inclui a gratidão pelo alimento. Mas todo cristão ora. A oração é um tema estudado e há muito material escrito a respeito. Alguns até analisaram e sistematizaram a oração, separando os diversos tipos e indicando a melhor forma de praticar cada um. Duas questões importantes: o que é a oração para cada um de nós? E, o que acontece com cada um de nós na medida que oro? Talvez ela tenha um significado diferente para cada um de nós e diferente para nós mesmos em cada situação que a praticamos. Ela pode ser uma oportunidade de celebrar a fé e agradecer a Deus, pode ser uma tábua de salvação num momento de intensa angústia; pode ser um lugar de busca e anseio por Deus… É certo que ela deve mexer conosco. Deve contribuir com nossa maturidade e fortalecimento espiritual. Uma querida irmã certa vez me contou como a oração tornou-se um processo terapêutico que lhe trouxe cura emocional.
Veja a oração do publicano. Ela é uma boa oração para todos nós. Ela não serve apenas para o primeiro encontro com Deus, para a nossa conversão. Ela é dirigida diretamente a Deus. Não há intermediários e isso é uma característica da oração ensinada por Jesus. Deus nos ama o bastante para nos ouvir diretamente. E se não nos ouvir assim, nada mudaria isso e nem ninguém. Mas Ele sempre ouve, embora a nós nem sempre pareça que ouviu. O publicano clama por misericórdia. A misericórdia de Deus possibilita-nos o perdão e a justificação. Devemos pedi-la para nós e para os outros. E se sabemos que precisamos da misericórdia de Deus, devemos ser misericordiosos. É uma contradição pedir a misericórdia de Deus quando pecamos, mas tratar nosso irmão sem misericórdia quando ele peca. É como se estivéssemos dizendo: eu não sou pecador e você é! E sabemos que isso não é verdade. O publicano reconhece: tem misericórdia de mim, que sou pecador. Todos que saem bem de uma oração, como aconteceu com o publicano, assim saem por causa da misericórdia de Deus.
Gosto do modo como Jorge Camargo expressou-se a respeito de Deus na canção Mar do Esquecimento. O que ele diz é um incentivo à oração. Sua poesia declara: “Em ter misericórdia reside o seu prazer. Em perdoar pecados a sua vocação. E em lançar mazelas no mar do esquecimento, mostrando a grandeza da sua compaixão. Breve é a sua ira, não dura o seu furor. Tratar-nos com ternura faz parte de seu ser. Para honrar seus pactos, promessas, juramentos, tem sua palavra que nunca vai falhar. Quem é semelhante a ti, ó meu Senhor? Não há ninguém ou nada maior que o teu amor!” O publicano é um exemplo das pessoas que conhecem por experiência esse Deus cheio de misericórdia. Sua consciência de ser um pecador e sua humildade, revelam-se virtudes mais valiosas do que justiça própria do fariseu. Que nossa espiritualidade seja marcada por humildade, consciência de fraqueza e busca por misericórdia. Pode parecer que estamos apenas no primeiro degrau da vida com Deus. Mas será melhor que estar no último da vida meramente religiosa.