“Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.” (Lucas 18.12)
Estamos refletindo sobre a Parábola do Fariseu e do Publicano. Ambos sobem ao templo para orar, disse Jesus. Quem primeiro aparece orando é o fariseu e ontem refletimos pobre a primeira parte de sua oração. Vimos que ele, embora tenha usado as palavras “graças te dou Senhor”, sua oração revela-se mais vanglória que gratidão. Na primeira parte da oração ele se mostra muito satisfeito consigo mesmo. Não somente isso, ele também se considera alguém distinto e melhor, muito melhor do que os demais. Em particular, melhor do que o publicano. Quando o fato de crermos em Deus e orarmos, e praticarmos quaisquer outras disciplinas espirituais nos leva a pensar que somos melhores e mais dignos que outras pessoas diante de Deus, sejam elas quem forem, este é um sinal de que nos desviamos da espiritualidade ensinada por Jesus. Era o caso do fariseu. O orgulho e a presunção são sinais claros de que perdemos o rumo do seguimento a Cristo.
Dominados por presunção, ainda que outros nos admirem, nossa espiritualidade será, na verdade, pura religiosidade. Nosso Mestre, sendo Deus, não exaltou a si mesmo. Ao contrário, humilhou-se, tomando a forma humana. E como ser humano escolheu agir como um servo obediente e obedeceu ao ponto de morrer a morte de cruz (Fl 2.5-11). Como então nós, seres humanos, pecadores, poderíamos pensar que somos dignos e bons o bastante e assim abrigar um sentimento de superioridade e grandeza? O verso de hoje traz a segunda parte da oração do fariseu. E ela é apenas consequência natural do que ele já revelou sobre seu coração na primeira parte. Ele tinha virtudes. Era zeloso no jejum e no dízimo. E, claro, estava no templo para observar a hora da oração! Mas sua virtude se corrompe e se faz vício, tornado-se mais um artigo para a estante de seu orgulho e glória pessoal.
Devemos ter cuidado para que nossas boas obras, nossa obediência a Deus e dedicação ao Seu Reino, não sejam alimento para orgulho ou presunção. Que também não pensemos serem créditos, dando-nos direito a bênçãos. A economia do Reino de Deus tem como moeda única a graça, jamais as obras. Não importa quanta virtude ou obras boas marquem nossas atitudes e ações, não temos o direito e nem razão para nos gloriar (Ef 2.8-9). “Quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado”, disse Jesus, “devem dizer: Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever” (Lc 17.10). Não devemos fazer de nossos atos de fé e obediência uma performance para que as pessoas vejam. Quando fizermos uma boa ação com a mão direita, que a esquerda não saiba (Mt 6.3). Se buscarmos o elogios dos homens, o que fizermos servirá apenas para isso e não para honrar a Deus (Mt 6.2). Tenhamos cuidado. Que nossa espiritualidade não se desvirtue de modo que se revele carnalidade. Que em humildade sirvamos a Deus e que seja para Ele toda a glória! Sempre.