“O fariseu, em pé, orava no íntimo: Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano.” (Lucas 18.11)
O fariseu foi ao templo orar. Há uma série de pressupostos que eram claros para os primeiros ouvintes da parábola de Jesus e que para nós, talvez não. Jesus começou a parábola dizendo que “dois homens subiram ao templo para orar”. Certamente tratava-se da hora em que os homens se dirigiam para o momento diário de oração. Em Atos 3 temos o relato de Lucas de um momento desses. Ele diz que Pedro e João estavam “subindo ao templo à hora da oração”, e acrescenta, às três da tarde (At 3.1). Bem certamente os ouvintes entenderam que se tratava desse momento em que um fariseu e um publicano estavam indo ao templo orar. A cena era comum a eles. Talvez o estranho tenha sido Jesus dizer que, além do fariseu, um publicano também estivesse indo. Jesus segue com a parábola e fala sobre a oração do fariseu.
O modo como Jesus coloca o fariseu orando, em pé, dá ideia de uma atitude confiante, segura. Ele ora em seu íntimo. Era uma oração com palavras de gratidão. Mas, se ouvida com mais cuidado, revela-se uma oração de orgulho e vaidade. Ele está satisfeito consigo mesmo e parece acreditar que Deus também esteja. Ele fala de si mesmo a Deus, como sendo o tipo de pessoa certa, a quem Deus sem dúvida diria: bem está servo bom e fiel. Suas palavras revelam que ele se sentia diferente, uma pessoa a parte das demais. Pessoas cheias de pecado e que nada tinham a ver com ele. Especialmente o publicano, que talvez nem devesse estar ali. Ele está cheio de si mesmo, por isso embora fale de gratidão, na verdade a oração que faz é um discurso de auto exaltação. Lembremos: Jesus estava contando a parábola a “alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros” (Lc 18.9). Jesus estava expondo o coração deles. A oração do fariseu, falava de seus corações.
Jesus conhecia o coração deles, e conhece o nosso. E quando oramos, é importante entender, o nosso coração fala mais alto que as nossas palavras. Talvez jamais tenhamos a atitude de orar como o fariseu, mas devemos ter cuidado para que não vivermos cheios de nós mesmos. Pois se for assim, desprezaremos os outros e seremos reprovados por Deus. Seremos como as pessoas a quem Jesus contou a parábola. O orgulho, a presunção, leva-nos a ver o pior nos outros e a ser cegos a respeito de nós mesmos. O orgulho nos afasta das pessoas e nos distancia de Deus. Jesus combateu esse pecado na vida dos seus discípulos muitas vezes. Qualquer deles que desejasse ser o primeiro, deveria assumir a condição de servo de todos os outros (Mt 20.26). Ao perceber o anseio em seus corações por glória, Jesus colou uma criança diante deles e pediu-lhes que se fizessem como ela (Mc 9.36). Não é fácil ter consciência do próprio orgulho. Mas devemos ter cuidado, pois Deus resiste aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes (Tg 4.6).