“Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem.” (Salmos 23.4)
Você já se viu num vale de trevas e morte? Já se sentiu desamparado, sem ânimo e sob o peso de algo que você não sabe como sustentar? Já sentiu-se abatido e sem forças para crer? Muitos de nós tem sua própria versão desse vale de que Davi fala. Ele escreveu salmos que revelam alguns desses momentos em sua própria vida. Um dos que mais me tocam é o 13. Nele Davi revela um sentindo de abandono. Deus virou as costas para ele: “Até quando, Senhor? Para sempre te esquecerás de mim? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando terei inquietações e tristeza no coração dia após dia? Até quando o meu inimigo triunfará sobre mim?” (Sl 13.1-2). Quando estamos no vale de sobras e mortes temos muitas perguntas e quase nenhuma resposta.
É lamentável que haja pessoas afirmando a fé em Deus como a garantia de imunidade contra toda angustia e dor. É lamentável que haja pessoas explicando a depressão como resultado do afastamento de Deus e falta de fé. Cada um de nós tem sua história, seu contexto, seus desafios e dores. Alguns descem mais profundamente nos vales de sombra e morte que outros. Há alguns que parecem jamais ter ido lá, mas tenho minhas dúvidas. Davi, que esteve em vários, convida-nos a confiar em Deus. Não precisamos negar a dor, mas podemos continuar crendo mesmo em meio a ela. Davi cria, apesar de suas dúvidas e perplexidade. Por isso no Salmo 13 ele termina de forma completamente diferente de como começou: “Eu, porém, confio em teu amor; o meu coração exulta em tua salvação.” (Sl 13.5) Apesar de tudo que sentia desistir de crer não era uma opção.
Ele entendia que seus sentimentos não definiam Deus. Sentir-se só não era o bastante para entender que Deus o havia abandonado. Ele expressa seu sentimento, mas continua crendo. Por pior que pudesse ser o momento, ele escolhia crer e confiar no amor de Deus. Ainda que estivesse cheio de dúvidas, pleno da certeza da ausência divina, ainda assim cria que era amado e permanecia confiando em Deus. Era assim sua espiritualidade. Era do tipo perseverante, que em meio à crise não desiste de Deus, apesar de não conseguir ouvi-lo, senti-lo ou ver sinais de sua presença. Somos convidados a seguir seus passos. Que a noite escura da alma jamais chegue, mas se chegar, que o dia amanheça bem rapidamente. E durante a noite, creia! Seja como for, escolha confiar no Senhor que é seu pastor. Este não é um caminho fácil, mas por ele que muitos heróis da fé caminharam. Quando encontrar-se nele, lembre-se de Davi e siga em frente. Afirme: “O Senhor é o meu pastor!”.