“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas.” (Mateus 7.12)
Este texto está no final do Sermão do Monte. Que sermão!!! O Evangelho de Mateus é escrito tendo em mente a comunidade judaica. Diversos aspectos, em seu estilo e abordagem, revelam isso. Ele se revela uma peça literária repleta de significado e simbolismo, que comunicava poderosamente com seus destinatários. Nele, de certa forma, Jesus é mostrado como o novo Moisés que do monte, o novo Sinai, relê e reinterpreta a Lei. Isso era necessário pois, com o tempo, a religião judaica havia perdido o espírito da Lei e ficado com as regras, apenas a letra. Cumprir os ritos como forma de sentir-se digno e superior aos demais (que eram chamados de “publicanos e pecadores”), passou a caracterizar o tipo de espiritualidade dos seus líderes. Mas, com Jesus, o Reino de Deus chegou e o novo Moisés, do novo Sinai, restaura o espírito da Lei e dos Profetas: “Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados… Mas eu lhes digo…” (Mt 5.21-22).
Nos lábios de Jesus, a Lei e os Profetas ressuscitam da morte causada pela religião. E a sequidão da santidade religiosa, que produzia insensibilidade, que colocava o sábado acima do ser humano, que julgava com facilidade e tinha mais a dizer sobre condenação do que sobre misericórdia e perdão, recebeu a água do Espírito. Jesus, de forma simples, autentica e com autoridade reinterpreta a tradição. Ele sova a velha massa do pão religioso e acrescenta o fermento do Reino. Todos são convidados a julgarem a si mesmos e não ao outro. A orarem e jejuarem em segredo, com humildade e discrição. A serem generosos sem interesses, sem vaidade, sem pretensão de aprovação e louvor dos homens. Deveriam amar os inimigos e falar bem e desejar o bem para os maus. Jesus explica isso de várias formas, com várias figuras. Eles deveriam sempre tratar os outros como desejavam ser tratados: “Façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas.”
Ele não estava nos entregando à nossa própria consciência, pois isso seria um perigo! Infelizmente há quem, sem amor a si mesmo, acaba fazendo o mal ao próximo, tratando outros como gostaria de ser tratado. Nossa enfermidade chega a esse ponto. Jesus está nos dizendo: “Amem as pessoas!”. “O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei”, escreveu Paulo aos cristãos em Roma (Rm 13.10). Para entendermos esse mandamento precisamos ouvir o sermão. Precisamos crer no amor de Deus e, pela graça, desfrutarmos comunhão com Deus. E aí entenderemos a Lei e os Profetas. E então, fazendo aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós, faremos o bem, seremos bons, haverá generosidade, misericórdia e graça. E aí teremos entendido o lugar e o sentido da Lei e dos Profetas!