“Escrevo-lhe estas coisas embora espere ir vê-lo em breve; mas, se eu demorar, saiba como as pessoas devem comportar-se na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade.”(1 Timóteo 3.14-15)
Há mais de um ano estamos sem a liberdade que tínhamos de estar no templo. Há quem sinta mais falta e quem sinta menos falta. Mas é inegável que o templo tem seu valor. O lugar é importante e afeta nosso estado de espírito. É mais fácil ser parte de uma igreja que está se reunindo presencialmente com frequência, do que permanecer numa em que as coisas estejam acontecendo apenas virtualmente. Paulo escreveu orientações sobre como comportar-se na igreja. Nessa pandemia, como a igreja deve se comportar?
A igreja tem uma missão e ela envolve testemunhar e sinalizar o Reino de Deus. Há o cuidado mútuo, a proclamação da graça, a denúncia do mal e da injustiça e muitas outras facetas nessa missão. Em se tratando de sinalizar o Reino, diante dessa pandemia, como devemos agir? E, em particular, como devemos agir em relação ao nosso templo? O que tenho a dizer é com base na igreja a que sirvo como pastor e não se constitui uma crítica e nem mesmo pretende ser orientação a nenhuma outra igreja.
Nossa escolha tem sido a de suspender nossas atividades no templo. E manteremos as coisas assim até que haja mais consenso sobre a mobilidade e aglomerações. Especialmente sob a perspectiva da ciência. Creio haver igrejas que sofrem mais, não apenas financeiramente, mas na comunhão também, por diversas razões. Mas olho para a nossa igreja e vejo que temos condições de fechar nosso templo e seguir firmes. Podemos cumprir nossa missão em todos os aspecto se quisermos, mesmo com o templo fechado durante este período. Somente nossa dureza de coração nos impedirá. E creio que a opção por manter o templo fechado cumpre o papel de fazer algumas declarações muito importantes, especialmente neste momento turbulento que vivemos.
Estamos declarando nossa confiança na ciência e revelando nossa sanidade mental e espiritual. A ciência é divina e tem contribuído muito para preservação da vida. Devemos a ela muitas bençãos: desde a sabedoria de lavar as mãos, à possibilidade de usar antibióticos e de fazer um transplante de pulmão. Quando nosso bebê está doente, ligamos para o pediatra e não para o pastor. Fazer o contrário, teria que ser feito com uma boa justificativa! A fé que desaloja a ciência não é fé cristã, É crendice religiosa. Não é esse o espírito do Evangelho de Jesus.
Estamos declarando também que somos uma comunidade, muito mais do que uma instituição. E ainda, que o mais importante para nós são pessoas e não o prédio. O lugar, o templo, não nos define e não é a razão de nossa unidade e força. Podemos flexibilizar nossa estrutura, programas e formas de realizar nossas atividades. O que não podemos flexibilizar é o compromisso de amar a Deus e de amar as pessoas. E com isso vamos demonstrando do que é feita nossa fé: se de ritos e lugares sagrados ou de encontros transformadores com Deus e as pessoas.
Essa atitude é também uma demonstração de respeito e solidariedade aos profissionais de saúde, aos enfermos, às famílias deles e especialmente aos enlutados. E isso fica bem ao cristão. Respeito e solidariedade são constituintes da fé cristã e da ética cristã. E a ética da igreja precisa ser cristã. Precisa leva-la a sofrer com os que sofrem e chorar com os que choram, em lugar de considerar-se essencial para os que sofrem e choram. E Se nos descuidamos disso, especialmente neste momento, poderemos ser causadores de sofrimento e choro, em lugar de oferecer consolo. Creio que nosso templo fechado neste período é um gesto de afeto.
Não estamos ignorando que este fechamento pode enfraquecer a igreja em alguns aspectos. Mas, na verdade, os prejuízos não são inevitáveis. Eles só acontecerão devido a nossa falta de humildade e espírito verdadeiramente cristão. A culpa realmente não é de estarmos fechados. É de nossa maneira de viver a nossa fé. De nossa dependência de sermos incentivados, motivados, atraídos e agradados. Será culpa de nosso egoísmo.
Se quisermos, se deixarmos o Evangelho nos guiar e não nosso ego, essa pandemia nos fortalecerá, ampliará nosso testemunho e nos envolverá ainda mais em nossa missão. Não sabemos ainda que aprendizados levaremos dessa pandemia, mas uma coisa é certa: ela já tem revelado o modo como compreendemos o Evangelho e o significado de ser igreja.