A cerimônia do adeus

A cerimônia do adeus

“Kodokushi ” ou morte solitária, um fenômeno sinistro nesta pandemia. Tudo ia acontecer como ela previra, tudo ia se desenrolar com a naturalidade do inevitável. Em Itaparica da Serra, a festa de 59 anos de Vera, realizada do quintal de sua casa com 28 convidados, dois irmãos e um tio morreram, existia uma sombra invisível trazendo a morte de forma desconhecida. No final os três na mente, com os olhares perdidos no nada: Como?- Depois só um instante, e o último suspiro, e os três desapareceram para sempre sem velório, sem despedida. Se você ama alguém quer o última ato.

Descobri com o coronavinus que a morte tinha chegado para esses lugares de confraternização, de união,de velório, a experiência humana  da despedida, que é sempre compartilhada como aniversário, casamento, formatura, o último ato, quando as cortinas fecham, deveria ser na capela do cemitério, onde, sem vida, o morto teria um endereço.

Não há nenhuma experiência que o ser humano tenha tido que não possa ser compartilhada: aniversário, casamento, formatura, posse , o fim de vida é o último ato, quando as cortinas fecham. Existe uma normalidade taciturna no ambiente, alguns assinam a lista de presença outros não.

Gente que chega e a família não via há anos cumprimentam constrangidos os familiares.
Pessoas desconhecidas da família também, já que cada ser vivo é um mistério na sua totalidade.

Coroa de flores, ato protocolar de carinho por quem conheceu ou conviveu com o falecido.
A tampa do caixão aberta,curiosidade de alguns em ver a última expressão sem vida, receio de outros em ver o rosto inanimado rodeado de flores.

A emoção se manifestando pelas lágrimas ou pelo silêncio dolorido, da família e dos amigos próximos, no momento do fechamento do ataúde. Ali termina o girar da roda da vida, o seguir dos acontecimentos.

Ficará gravado apenas duas datas e um nome, lembrando o lapso temporal de existência daquele ser,que será atropelado pela roda do tempo e dos acontecimentos futuros,tudo o que viveu,tudo o que passou na vida terrena desaparecerá.

Neste período da pandemia este último ato de dignida humana foi roubado, a morte é solitária na UTI, sem visitas, e o enterro sem espera.

*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.

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