Entrei, depois de dez anos, no condomínio que tinha uma casa no bairro de Piatã, passei pela antiga rua onde a casa está, minha única lembrança é a de um flambioã que plantei no passeio em frente, e as borboletas que chegavam; o passar do tempo é implacável e indiferente a minha ligação com o passado. Talvez o flambioã tenha morrido e as borboletas tenham voado para longe.
Faço a curva na rua familiar e sinto o passado me puxando novamente. Nossa antiga, antiga casa está relativamente inalterada. O flambioã está florido. Desacelero o carro ao passar na frente da casa e recordo o casal que a comprou de nós. Eram bem mais novos, talvez uns cinco ou dez anos a menos, e tinham dois meninos, acho. Pergunto-me se eles ainda moram lá e me ressinto de sua presença, como se tivessem roubado, de nós a casa e a felicidade contida nela.
Revejo o clube do aniversário de seis anos de Lucas e lembro que a rua terminava neste ponto. Paro no meio-fio, ao lado e observo a longa fileira de casas idênticas. Respiro fundo para esvaziar a cabeça, com a esperança de que isso me permita recriar a memória. As casas, pequenas, revestidas de pedra artificial e sem garagem, formam uma massa esparramada de residências para jovens famílias. O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto. Gostei de relembrar este passado.
A ausência do tempo é a eternidade; lá não sentiremos mais a falta do tempo; seja ele presente, passado ou futuro. É o fim dos tempos.