A arte de morrer

“Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal. De modo que em nós atua a morte; mas em vocês, a vida.” (2 Coríntios 4.10-12)

É preciso morrer. Também não gosto da ideia, mas é verdade. Vamos tentar entender isso. Jesus, falando de sua própria morte, tomou como exemplo a semente do trigo dizendo: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto.” (Jo12.14) Em seguida, verso 15, Ele fala a nós, dizendo que é preciso que aprendamos a valorizar mais a vida eterna que a vida terrena (v.15), escolhendo morrer para esta, a terrena, afim de viver para aquela, a eterna. Eis uma lição difícil para nós. Mas Jesus não está dizendo que a vida terrena seja uma maldição e deva ser anulada completamente pela negação. Mas está dizendo que há circunstâncias em que precisaremos dizer “não” a ela, a terrena. Quando? Quando o momento representar um caminho de contradição do caráter e da vontade de Deus. Aí será preciso morrer. E se o fizermos, daremos muito fruto.

Jesus afirmou que segui-lo exigiria a capacidade de não seguirmos a nós mesmos ou, em Suas palavras, a capacidade de negar a nós mesmos (Lc 9.23). Não se trata de aplicar este princípio a absolutamente tudo na vida. Num completo estranhamento da vida terrena. A ressalva que faço é necessária porque há pessoas que tem dificuldades com os prazeres legítimos e honrosos da vida, como se fossem pecaminosos, por entenderem errado as palavras de Jesus. O que Ele está dizendo, reafirmo, é que será inevitável que precisemos dizer não a nós. Pois diante de tentações, nós precisaremos morrer, ou seja, precisaremos dizer não a nós mesmos, não é fácil, mas todas as vezes que em respeito a Deus dissermos “não” a nós mesmos, negando-nos para obedecê-lo, teremos feito algo maravilhoso. Isso será uma benção para nós, para nós mesmos e também para os outros. Creio ser esta a compreensão adequada para as palavras do apóstolo nos versos de hoje. Ele experimentou essa dinâmica que exigiu morte de si e o aprendizado, esse aprendizagem difícil da arte de morrer.

Paulo disse que, entregue  à morte, experimentava a vida de Cristo. E que na operação da morte em si, seus leitores recebiam vida. Como pode ser isso? É que a submissão do apóstolo confirmava em si mesmo a vida eterna que havia recebido e o tornava uma fonte de benção para aqueles irmãos. Ele morria para si e recebia mais vida por meio dessa morte. E mais vivo para Deus, sua vida tornava-se dádiva para outros. O mesmo aplica-se a nós. Diante dos conflitos entre o que queremos e o que sabemos ser a vontade de Deus, precisamos aprender a arte de morrer, dizendo “não” a nós mesmos. Não se trata de uma negação desenfreada e sem propósito. Esse tipo de negação nos adoeceria, mas de submissão, voluntária, consciente, à vontade de Deus. Dando a Ele a primazia em nossa vida. Essa é uma luta diária e é possível que você hoje se veja diante dela. Não tenha medo de morrer para si. Aprenda a arte de morrer. Este é um dos segredos de quem aprende verdadeiramente a viver.

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