A alma humana

“Sou pobre e necessitado e, no íntimo, o meu coração está abatido.” (Salmos 109.22)

O que se passa com o salmista? De que lugar ele declara sua pobreza e necessidade? É um fato ou um sentimento? A alma humana é encantadora por sua capacidade de ser um mundo em si mesma. Ela jamais será um simples resultado do que a circunda. Ela tem razões e vida próprias. A realidade à sua volta não a define. Por outro lado, ela é quem define a realidade. Como afirmou Anais Nin, não vemos as coisas como são, mas como somos! Por isso é que as palavras do salmista admitem a dúvida: ele está falando de seu estado físico ou emocional?

Pois o sentimento de pobreza e necessidade pode habitar a alma enquanto o corpo está rodeado de bens e suprimentos. Por outro lado, pode estar um corpo pobremente vestido e fragilmente alimentado, mas a alma estar plena de vida. Uma alma pode superar um corpo abatido, mas uma alma abatida sempre dobrará o corpo, por mais nutrido que pareça.
A vida tem dores, necessidades, fomes, abandonos, solidão, abatimento, vazio. É triste quando isto acontece com o corpo e é devastador quando acontece com a alma. Quando ela sente dor, a dor invade o corpo. A alma humana é assim e também cheia de beleza. Uma delas é a beleza de sentir a dor do outro, de outra alma. A alma humana, porque foi feita pela divina, é capaz de sentir a dor que não a habita! Deus é assim. Quando a alma se sente necessitada, faminta, abandonada, só, abatida ou vazia, ela precisa de outras almas. Ela precisa de Deus. Coisas não são a resposta! É papel da alma cristã, levar na própria alma o amor de Deus para oferta-lo a outras almas.

Vivemos num mundo que cuida mal das almas e dos corpos humanos. Como cristãos e igrejas devemos ser o contraponto desse descaminho. Devemos cuidar das almas e dos corpos humanos. O cuidado amoroso é uma das evidências de que nossas almas estão sob o cuidado de Deus. O cuidado de Deus inspira o cuidado para com outros. A presença de Deus nos envia a comparecer na vida dos outros, para o bem, como Ele se faz estando presente na nossa.

Deus nos amou e nos deu Seu Filho. E se temos recebido cuidado dele para nossa alma, devemos cuidar de outras almas. Se nele temos encontrado amor e graça, outras almas devem encontrar o mesmo amor e a mesma graça em nossas almas.

Mesmo cuidados por Deus nossa alma pode se ferir e gemer de dor. Podemos nos sentir pobres e necessitados e não é ruim que seja assim. Isso nos humaniza. Mas sabemos para onde ir e devemos ir. Não me refiro somente a Deus, mas também na direção uns dos outros. E assim receber cuidado: humano e divino. É assim que a alma precisa existir: Sendo cuidada e cuidando. Podemos sempre contar com Deus. Que possamos contar uns com os outros. E que outros possam contar conosco para serem cuidados e aproximados daquele que cuida de todos nós.

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