No dia que meu pai morreu, estava chovendo. Dia do trabalho, cinzento, desses que parecem não ter fim, em que tudo é lento, tudo está molhado, e a manhã e a tarde são iguais. Um dia normal, com a cidade coberta de nuvens. Mas dizer adeus é um fato da vida. A perda é inevitável. Você já deve ter ouvido falar de Einstein, dizendo que não havia tempo nem espaço, mas uma união dos dois. Ou Colombo, insistindo que do outro lado do mar não estava um abismo, e sim um continente. Ou dos Beatles, que fizeram uma música diferente e se vestiram como pessoas totalmente fora de sua época, todas elas e milhares de outras como meu pai também viviam no seu mundo, o de meu pai foi o trabalho de magistrado admirado em todos os sentidos.
Muitas vezes o via sentada na biblioteca tarde da noite trabalhando ou lendo. Era o jeito dele se proteger, blindando-se dos terrores do mundo. Ele protegeu a família do desconhecido, dando educação e amor. Seu olhar, o tipo que trasmitia a verdade que habita nas profundezas mais intimas, brilhava através de suas expressões, como a luz de um mundo mais puro, e melhor. O charme, mais delicado e mais distinto traço a se perceber, que se fazia presente em todo o seu rosto e trasportava os defeitos para outro lugar, tornando difícil estimar os méritos e imperfeições dos outros traços.
Agora vejo do lado de fora da janela, um carro solitário passar com os faróis acesos e um gambá do tamanho de um gato correr por ele. E logo o silêncio voltou a reinar na rua.
Continuei pensando, absorto nos mesmos monólogos internos, com o olhar fixo perfurando a escuridão. Eu também estou orgulhoso de mim. Tipo, não estava gostando de ver onde meus velhos hábitos estavam me levando, sabe? Com aquela escuridão proterora .E me sinto supermotivado a virar a página. Sempre amei meu pai e confiava nele; O pai de toda uma vida, o pai de meu refúgio. Junto ao turbilhão de sensações que senti quando faleceu existem hoje ,sentimentos de gratidão por ele ter sido presença marcante na minha vida.