Dois de outubro de 2022. Cinco horas da manhã e o dia começa em laivos rosados, na linha do horizonte. Os passarinhos, sem memória, sem noção de democracia e eleição, cantam com a mesma alegria de sempre, dispersados que são da agonia das datas, felizes uns com os outros, voando por essas árvores que amanheceram floridas na estação primavera. Acordei com a mente em branco, mas logo pensei hoje o importante é exercer o direito do voto. Não importa; o céu é mais velho e já passou por muitas eleições. Votarei na Faculdade de Educação, perto de onde moro, fui andando, pelo lado direito da via, o sol lançava raios de luz faiscante e o vento quente regia em meus ouvidos, por um minuto, foi como se minha vida tivesse deixado de existir eu estava apenas flutuando pela multidão de eleitores, fazendo fila para votar. A memória é um rato roedor dos fatos, que diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto, pois há, nos acontecimentos, muitos pormenores que se perdem, e nem por isso morre, a história dos candidatos. Na fila vi um velhinho de 75 anos mudar o peso de um pé para o outro, como uma cegonha desgarrada, o rosto ficando tão vermelho quanto um tomate supermaduro, pela demora, afinal são cinco votos. Enquanto, eu procurava descobrir um talento ou qualidade escondida nos candidatos que escolhi. A imagem que construímos está distante de suas verdadeiras identidades. O caráter, traduzida por sua história, valores, e princípios, mas para os políticos costumo usar a metáfora do sol. Antes da eleição, os raios incidem sobre suas cabeças projetando uma imagem poderosa. A medida que a eleição passa o sol vai se pondo no horizonte, seus raios deixam uma sombra distante e quanto mais distante da eleição, a sombra torna-se engraçada, sem muita clareza, a esconder certos traços do que disse de promessas de campanha.
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