Voltar ao início

“Daí em diante Jesus começou a pregar: Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo.” (Mateus 4.17)

Quero voltar ao início de tudo, encontrar-me contigo Senhor. Quero rever meus conceitos, valores, eu quero reconstruir! Vou regressar ao caminho, volver (voltar) às primeiras obras, Senhor. Eu me arrependo Senhor, me arrependo Senhor, me arrependo Senhor!” Lembra-se da canção? Seu autor é Aurelio Ricardo Ramos da Rocha. Ele deu a ela o nome de “Primeiro Amor”, mas o centro de sua mensagem, segundo a percebo, não é o amor e especialmente o amor que pensamos ter por Deus. O centro de sua mensagem é o arrependimento. Diria, o arrependimento diante do amor de Deus. Para mim, voltar ao inicio é voltar, não ao meu amor por Deus (especialmente ao que primeiro senti, infantil e tão intenso quanto frágil), mas voltar ao arrependimento. Precisamos amar, precisamos aprender a amar e o amor é central. Sem dúvida! Mas não aprenderemos a amar até que tenhamos aprendido a nos arrepender.

A mensagem do Reino nos chama ao arrependimento. Costumamos considerar o arrependimento na perspectiva do que fizemos de errado e não deveríamos ter feito. Mas, por que fizemos? Por que não sabíamos ser errado? Somos confusos. Nem sabemos direito o que é realmente errado. Somos pecadores. Fazemos o que fazemos porque somos quem somos. Há quem finja não ser quem de fato é, e há quem se iluda a respeito de si mesmo, apenas porque não faz o que outros fazem. Revelam com isso ignorância sobre si mesmos e incapacidade de serem empáticos, de compreenderem em lugar de julgar o outro. Essas atitudes apenas dificultam o arrependimento que pode nos levar ao amor, cuja presença a tudo transforma e enriquece. Se esperamos que haja valor em nossa religiosidade, é preciso que haja amor em nossa espiritualidade (1 Co 13.1-3). Se queremos aprender a amar de verdade, precisamos nos arrepender, de verdade. E somente se arrepende de verdade quem se arrepende de quem é e aceita o amor incondicional de Deus.

Precisamos aprender a nos arrepender de quem somos. É esse o tipo de arrependimento que possibilita-nos perceber o quanto precisamos do amor e da graça de Cristo. Arrepender-nos de quem somos fortalece nosso senso de dependência e nos ajuda a sermos mais humildes, livrando-nos da prepotência. O arrependimento de quem somos nos possibilita uma dimensão mais realista da grandeza do amor de Deus e isso é a semente indispensável para aprendermos a amar e sermos verdadeiramente gratos. Cristãos apenas arrependidos do que fazem fracassam no amor e tornam-se vítimas, tanto de seus fracassos (pois alimentam suas culpas), quanto  de suas vitórias (pois alimentam seu orgulho). Cristãos arrependidos de quem são vivem acima dessa matemática, que é tipicamente religiosa. Aprendem a amar e a confiar no amor de Deus. Precisamos voltar ao início, e quantas vezes forem necessárias, nos arrepender. Seremos fracos até o fim, mas aprenderemos a amar e isso mudará tudo!

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