Liguei a televisão quando acordei, explosão em caixa eletrônico, tiroteio com traficantes. Normalmente uma favela é um labirinto de ruelas serpenteada por construções simples e a maioria dos marginais se escondem aí, são na maioria filhos de famílias desestruturadas. A infância pobre, a morte do pai numa briga, a mãe que acabou sumindo neste mundão. Não estudou. É um mundo triste e sem fim um grande mundo assombrado e pobre. A própria cabeça do marginal, se olhassem dentro dela, estava cheia de pensamentos estranhos e chocantes, sem conexão com o afeto, e sim com a violência, já que nasceu neste universo.
Não desejo este saco de emoções, no que não convém pensar muito, pois a vida é curta, e mais curta ainda para o excluído. Mas nos ônibus, passarelas e ruas mal iluminadas, muitos erguem a fatigada cabeça e inspiram com certa força os pulmões ao ouvirem “É um assalto “.
Nesse ar que inspira entra-lhe pelo peito a vulgar realidade de uma cidade desumana e injusta e você não está mais do lado oposto a favela mas vivendo as consequências da desigualdade, e seus olhos já não contemplam sonhos longe, mas apenas aquele instante em que pode perder a vida. A vida nem sempre é justa e é absolutamente imprevisível. A feia frieza do marginal assusta. Nisto está uma das crueldades da vida, mas a esperança nossa sobrevive à custa de mutações, onde vamos aceitando como normal esta realidade cruel e no fim, temos apenas o instinto de sobrevivência, é a ruína da sociedade quando chega ao ponto em que emergimos no mundo em que de forma inesperada tudo parece possível, onde o desumano da agressão de matar e roubar se torna rotina.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.