Vida Solitária

Vida Solitária

Trabalhei no Banco do Brasil por um bom tempo, e tinha um colega que era filho único e já com vinte e nove anos, era órfão de pai e mãe, vivia sozinho, era taciturno e retraído. Não fazia e não recebia visitas. A casa era de poucos amigos fui lá uma vez, havia lá dentro a melancolia da solidão. Um só lugar podia chamar-se alegre; eram alguns m2 de quintal que ele percorria e regava todas as manhãs. Erguia-se com o sol, pegava o regador, dava de beber às flores e à hortaliça; depois recolhia-se e ia para o banco, almoçava às 12 horas, depois descia a passos lentos de volta ao banco que era perto, a qual, se tinha algum tempo, folheava rapidamente o jornal. Trabalhava silenciosamente com a fria serenidade do método. Fechado o expediente, voltava logo para casa. Ao chegar em casa esquentava uma comida congelada, em uma mesa de quatro a cinco palmos sobre a qual comia, medíocre na espécie, mas farto e saboroso para um estômago sem aspirações nem saudades. Ia dali ver as plantas e ler algum livro, até que a noite caía. Não somente o teor da vida tinha essa uniformidade, mas também a casa participava dela. Cada móvel, cada objeto, parecia haver-se petrificado. A cortina, que usualmente era corrida a certa hora, como que se enfadava se lhe não deixavam passar o ar e a luz, à hora costumada; abriam-se as mesmas janelas e nunca outras. A regularidade era o estatuto comum mas o futuro é tão incrivelmente imprevisível que tentar se planejar pra ele é como estudar pra uma prova que nunca vai fazer, sei que hoje ele ainda é solteiro e fez direito após aposentar do Banco do Brasil.

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