“Assim, cheguei a esta conclusão: Deus fez os homens justos, mas eles foram em busca de muitas intrigas.” (Eclesiastes 7.29)
A declaração deste texto nos coloca diante de um aspecto muito importante e que é fonte de escândalo e ceticismo por um lado e de infantilidade e cegueira por outro. Há quem não consiga crer num Deus que permite que crianças morram de fome e nada faz para reverter a maldade e a injustiça. E há quem, diante da tragédia do mal na história humana, afirme que “Deus tem um propósito para isto”, como se Deus promovesse a doença para então providenciar a cura e assim mostra Sua bondade. Um lado divino que “cria dificuldades para vender facilidades”.
A questão é: tudo que acontece cumpre a vontade de Deus? Ele é o responsável por tudo? Está “por trás” de cada cena da história humana? De maneira simples e mesmo de dentro de um mundo cuja cosmovisão majoritariamente vê Deus como a causa primária de tudo, Salomão afirma que a maldade humana não é de responsabilidade divina. Minha vida e a sua não são resultado apenas do querer de Deus. No terreno de nossa história há muitas árvores que estão dando frutos e que Deus jamais plantaria. Algumas nós mesmos plantamos, outras foram nossos pais e tantas outras, pessoas as mais diversas. A dor e maldade são contingências da existência humana com implicações para além de nossa compreensão.
Porque não conseguimos entender, não devemos simplificar. E há aspectos espirituais em meio a tudo isso que ampliam exponencialmente nossa dificuldade. “O ladrão vem para matar, roubar e destruir”, disse Jesus. De onde, como, por meio de quem e quando? Quem lhe abre oportunidade, quem lhe permite acesso? Devemos considerar nossas responsabilidades e buscar socorro e mudança na Graça de Cristo. Devemos considerar os riscos da vida e na mesma Graça, buscar refúgio, consolo e esperança. Afinal, Cristo veio nos trazer vida abundante, ainda que sejamos vítimas e parte de um mundo mau. Nele há vida, apesar da vida!